Max Dias
Historiador, jornalista, professor do IFES Campus Linhares e Doutor em História
Publicado por: Max Dias Em: Colunistas No dia: 10 de agosto de 2020
Uma parte do Jair Bolsonaro na presidência é fruto da histórica insatisfação dos setores médios da sociedade com a velha prática da política nacional, que sempre procurou resolver as coisas pela via do grande acordo, “com Supremo e com tudo”. Ele, no entanto, não é um resultado tão inédito como tenta vender o seu vizinho bolsonarista empolgado.
Por mais contraditório que possa parecer, o atual presidente esteve durante a vida toda orbitando no centrão e praticando a velha política. Foram 27 anos só na Câmara dos deputados. Entre um bom salário, altas verbas de gabinete, poucos projetos de lei e algumas bravatas racistas, sexistas e homofóbicas, Bolsonaro era mais um desses que, até ontem, o eleitorado repudiava (o legislativo está entre os poderes que o brasileiro mais rejeita). Porém, com um discurso extremista remodelado à direita, o seu passado de centrão foi deixado pra lá para que o “Messias” chegasse à presidência, como se o papagaio que a vida inteira andou com o joão-de-barro tivesse passado de ajudante de pedreiro a “engenheiro civil, formado”.
No fundo, a palavra “centrão” virou uma espécie de adjetivo para designar tudo o que é corruptível na política e o termo “centro” parece ter se tornado o lugar da sanidade republicana. O bolsonarismo, que capturou a direita, empurrou todos os antigos destros para o campo central, embolando ainda mais a confusa definição de termos políticos no Brasil. Para piorar, a grande mídia criou recentemente um tal “blocão” congressista para o diferenciar do “bloquinho” que se descolou deste para lotear cargos no governo Bolsonaro. No fundo, alimentar essa confusão semântica não ajuda a dar nome às coisas, pois o superlativo de um objeto não retira a essência do mesmo, tampouco o diminutivo. A “rachadinha” é o que é em qualquer governo, de qualquer presidente, por mais que certos depoentes façam malabarismos quando pressionados pela justiça.
Segundo consta por aí, o centro político traria consigo uma tendência ao equilíbrio, enquanto Bolsonaro é um desequilibrado. Nem tão ao céu ou ao inferno, caro leitor. Se o centro suporta seu poder por meio de grandes acordos conciliatórios em detrimento das necessidades do povo, o desequilíbrio do presidente não é incalculado; serve para justificar a sua inaptidão em resolver os mesmos urgentes problemas do país. Suas medidas inócuas se unem às do tal centro que nos legou recentemente uma reforma trabalhista e outra previdenciária. A promessa infundada de geração de emprego e justiça social é o emblema do desequilíbrio do centro, assim como o fim do loteamento de cargos e do “toma lá dá cá” é a fábula bolsonarista.
Como “filho feio não tem pai”, sobra sempre para o tal centrão a pecha de fisiologista. Para ficar no exemplo mais simples, um desses partidos que recebem tal alcunha é o PSD. Criado há cerca de 10 anos pelo ex-prefeito de São Paulo, o economista Gilberto Kassab (após um racha no DEM paulista), tal agremiação já esteve na base de apoio do PT e foi fiadora do MDB de Michel Temer quando Dilma foi apeada do cargo. Histórico aliado do PSDB em São Paulo, agora o seu status de relacionamento sério está com Bolsonaro, o presidente que já teve filiação em oito partidos diferentes e se aproxima do nono, todos eles entre o que chamam por aí de centro ou centrão, dependendo do gosto do cliente.