Max Dias
Historiador, jornalista, professor do IFES Campus Linhares e Doutor em História

A Federação partidária e o futuro da democracia


Publicado por: Max Dias Em: Colunistas No dia: 4 de fevereiro de 2022


O debate que toma a agenda política do país nesse início de 2022 é o das Federações. Quase todos os partidos estão mobilizados nessa tarefa. O prazo do Tribunal Superior Eleitoral é considerado estreito para que, de forma unânime, todos as agremiações (e suas lideranças) fiquem satisfeitas ao final das conversas.

Pesa a favor da Federação o seu caráter programático, anulando o antigo modelo de coligações tido como prostituído e fisiológico. Numa tentativa de diminuir as muitas legendas de aluguel, a Federação se propõe a criar isonomia, garantindo ao eleitor lisura, já que as coligações proporcionais tendiam ao estelionato eleitoral, gerando uma autêntica confusão na cabeça do cidadão. Votava-se em Fulano e elegia-se o Ciclano que, não raro, virava opositor do seu coligado tão logo as urnas se abriam. Uma derrota completa da democracia.

Nessa nova modalidade de ajuntamento partidário as agremiações acordam um programa que tem validade de quatro anos, fortalecendo a identidade deste bloco de modo vertical. Os que se ajuntam em Brasília se ajustam no Brasil. Desse modo o eleitor poderá votar tranquilamente numa Federação, do nível municipal ao federal, na certeza de que o programa registrado em cartório é o que norteia a ação daquele agrupamento. No Congresso Nacional eles serão uma bancada e, do mesmo modo, o serão na Câmara Municipal da pequena cidade de 20 mil habitantes.

Obviamente, nem tudo são flores. Algumas questões pesam contra a Federação. A maior delas reside na repetição de lideranças. A Federação tende a enterrar jovens líderes que, sem espaço para a disputa, vão abandonar o barco ou se aventurar em um novo agrupamento, noutra Federação, com a qual não possui identidade, mas que propicie alcançar um mandato. Isso, de fato, é um risco para a democracia, pois sem a oxigenação de quadros também segue em curso um engessamento de ideias. Afinal, nossa República, historicamente, privilegia homens brancos de meia idade. As jovens mulheres negras vão precisar escalar o Everest (novidade…) para chegar a um mandato.

Apresentados os pontos positivos e negativos da Federação permanece o nó da política real, aquela que ocorre no cotidiano dos bairros, nas cidades. A análise sobre a extrema dificuldade da Federação em agradar gregos e troianos em cada município desse país (tão acostumados à fisiologia e as rivalidades que podem se travestir em casamento forçado) fica para a próxima ocasião.