Max Dias
Historiador, jornalista, professor do IFES Campus Linhares e Doutor em História

Quem (não) deve não teme


Publicado por: Max Dias Em: Colunistas No dia: 22 de abril de 2021


A frase que inaugura esse texto é um daqueles ditados populares que vira e mexe está na boca da galera. O próprio Jair Bolsonaro utilizou tal adágio por diversas vezes antes de ser presidente da República. A partir de 2019, quando o dito cujo passou a esquentar a cadeira do Planalto, essa frase sumiu do seu repertório. Nada de anormal para quem tem mania de perseguição e vê crescer uma denúncia após outra ao seu redor.

Do escândalo da “rachadinha” envolvendo o seu filho e senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) aos esquemas financeiros de Fabrício Queiroz e os tais cheques recebidos pela primeira-dama Michelle Bolsonaro, cada uma dessas investigações foi deixando o presidente acossado. Estando nessa posição ele passou a se fazer de vítima. Para o presidente haveria um grande complô (até internacional, por meio dos acordos climáticos), cujo objetivo seria impedir o país de seguir o seu caminho de purificação nacional, de luta anticorrupção e de retorno aos bons costumes.

Agora, Bolsonaro está diante de uma CPI que pode desgastá-lo e sua postura repete as outras. Na prática haverá, de agora até a conclusão dos trabalhos parlamentares, uma forte busca por impedir a conclusão de investigações. Toda protelação ajuda Bolsonaro a construir narrativas fantasiosas nas redes sociais alimentando politicamente o seu séquito. Por outro lado, o personagem que deve ser protagonista da CPI é um forte desafeto e deve trabalhar com o seu rolo compressor ligado. Reconhecido como hábil político entre os congressistas, mas também como um autêntico mafioso por boa parte da sociedade, Renan Calheiros (MDB-AL) na relatoria pode trazer problemas para o presidente da República. Ao que tudo indica será a hora do troco, do revide, de comer o prato frio.

Todavia, o próprio Calheiros diz que sua relatoria será técnica, enquanto a oposição reforça que sua tarefa consiste em passar a limpo apenas a gestão da pandemia. Nesse teatro Jair Bolsonaro se prepara sob duas perspectivas: desmobilizar parcela dos parlamentares oferecendo-lhes algo em troca e reforçar o discurso junto ao seu eleitorado de que tudo não passa de uma nova armação dos opositores: petistas, comunistas, lulistas e etc. O Jair cada vez mais teme, apesar de muita gente ainda acreditar que ele não deve.