Toda e qualquer Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) é um instrumento político, por mais que sua instalação obedeça a uma necessidade republicana. A contínua investigação sobre o Executivo cabe aos parlamentares e é sadio que ela aconteça. Espanta, inclusive, que a atual CPI da Pandemia tenha sido ordenada pelo STF e após mais de 300 mil mortes e recordes diários de enterros. Demonstra o quanto a maioria dos congressistas pouco se importa com sua tarefa de fiscalizar. E isso é verdade. Entre uma boa emenda parlamentar e uma péssima comissão de inquérito os nobres congressistas preferem a pizza. Até porque ela garante a gestão equânime das duas.

Nessa semana a instalação da CPI trouxe consigo uma amostra do que vem por aí. Cheira a pizza. O cheiro dessa iguaria guarda um mistério interessante e o segredo está numas folhinhas, o orégano. Quem tem olfato mais aguçado pode dizer que sente uma série de outros odores, mas certamente não nega o valor dessa especiaria que antes mesmo de ser levada ao fogo já exala seu aroma. A CPI da pandemia cheira a pizza porque o próprio Congresso Nacional também é responsável por essas mortes, ao não acompanhar minuciosamente (por meio de um comitê parlamentar) o desdobramento de cada ação do Executivo; ao não pressionar o governo a cada momento em que Bolsonaro fazia sua defesa inconteste da cloroquina ou, pior, quando pregava contra o isolamento social e a vacina.

Se Bolsonaro não tem uma base sólida no Congresso (ante a sua tortuosa agenda reformista), fica claro que o mesmo tem um forte apoio de deputados e senadores dispostos a trocar uma CPI por meia dúzia de cargos e emendas. Antes mesmo de instalada a CPI, o discurso de muitos senadores (incluindo o do Jorge X-9 Kajuru) já era de “ampliação” das investigações. Querem que governos estaduais e municipais também sejam colocados nessa conta. Eleição que dá em Brasília também dá em Glicério. É mais ou menos por aí que o cardápio da Cantina da Nonna vai servir a pizza.

Fica a dúvida se Bolsonaro vai sair mais forte dessa CPI. A sua aposta é essa. “Se o vírus veio da China e os estados e municípios não usaram cloroquina, que culpa tenho eu?”, dirá o presidente. Contra sua reeleição ainda pesa o fator Lula, cujas pesquisas mostram vantagem cada vez maior sobre Bolsonaro. Porém, o ex-presidente agora depende de nova análise do plenário do STF para que seus direitos políticos sejam mantidos. As próximas semanas prometem mais que pizza.