
Max Dias
Historiador, jornalista, professor do IFES Campus Linhares e Doutor em História
Publicado por: Max Dias Em: Política No dia: 9 de dezembro de 2020
Nas eleições municipais do Espírito Santo as duas principais lideranças políticas se enfrentaram novamente, porém, com objetivos diferentes ante a conjuntura. O atual governador Renato Casagrande (PSB) buscou firmar o seu DNA no interior, onde vive metade da população espírito-santense e alcançou sucesso na sua tarefa rumo à reeleição. Já o ex-governador Paulo Hartung (sem partido) buscou construir, nos bastidores eleitorais da Grande Vitória, um canal de diálogo capaz de lhe oferecer outros proventos, especialmente, indicação de aliados para cargos de gestão (o que proporciona visibilidade eleitoral) e intervenção na agenda pública.
Paulo Hartung (assim como o empresário Luciano Huck) é uma dessas figuras que atuam na formação de jovens quadros para a política por meio de instituições como Renova BR e Agora!. O ex-governador, que nunca manteve qualquer fidelidade partidária, hoje incentiva novas lideranças a utilizarem qualquer partido do cardápio brasileiro como trampolim para o alcance de um mandato cujos fundamentos estão baseados nos ideais dessas organizações “suprapartidárias” citadas acima. Segundo Paulo Hartung, em recente entrevista, os seus ideais, assim como os de Luciano Huck, são forjados no equilíbrio entre o livre mercado e políticas sociais.
Personagens como os deputados federais Felipe Rigoni (PSB-ES) e Tábata Amaral (PDT-SP), de partidos de centro-esquerda, são frutos desse movimento supostamente “apartidário”. O último episódio polêmico em que os dois se envolveram versava sobre a reforma da previdência. Ambos os partidos tiraram posição contrária ao texto proposto, todavia, Rigoni e Amaral votaram de acordo com as suas “consciências” e deram os seus votos de aprovação à reforma. Primeiro o mercado e depois, do que restar, políticas sociais.
Nessa linha de pensamento, Paulo Hartung tem se esmerado nacionalmente em favor de uma candidatura que consiga, por meio da moderação e do acordo, escantear a esquerda do segundo turno, propalando uma mesma narrativa de 2018: só será possível vencer o atual presidente pelo centro, lançando Jair Bolsonaro cada vez mais para o extremo da direita, isolando-o. Correto ou não, tal raciocínio centraliza as ações de Paulo Hartung para 2022.
Em entrevista recente, o ex-governador disse que não é mais candidato a nada e que seu ciclo político se encerrou no auge dos seus 63 anos. Como bom jogador que é, Paulo Hartung sabe a hora exata de esconder as cartas, blefar e mostrar. Tem feito desse modo há tempos, inclusive cavando espaços na grande mídia nacional para apresentar o seu perfil conciliador e de gestor responsável, e, assim, vem ganhando visibilidade entre os seus pares de Estados mais importantes politicamente. Se Bolsonaro não tem porque se preocupar com o ex-governador do pequenino Espírito Santo, por outro lado, Renato Casagrande tem, afinal, raposa velha perde o pelo, mas não perde o vício.

