Max Dias
Historiador, jornalista, professor do IFES Campus Linhares e Doutor em História

A democracia e os detalhes onde o diabo mora


Publicado por: Max Dias Em: Colunistas No dia: 8 de julho de 2020


A democracia não é só um termo cuja origem remonta à Grécia antiga, tampouco um simples governo do povo. Desde a derrocada dos países do Eixo na 2ª Guerra o termo passou a receber uma conotação uníssona no mundo ocidental, onde democracia e capitalismo liberal se aparentavam tanto no vocabulário corrente quanto ditadura e socialismo soviético – porém, com pouca e rápida reflexão histórica, identificamos uma dezena de vezes que os países democrático($) empurraram modelos ditatoriais para outras nações.

A fim de libertar a palavra democracia de um lugar comum, fortes debates foram alimentados por décadas pela intelectualidade, mas a sua conceituação quase sempre recaiu numa posição idílica ou funcionalista.

Após o ataque às Torres Gêmeas o mundo viu crescer a ofensiva do Ocidente contra o chamado “terror”. O remédio para a burca e o Corão foi uma democracia. E assim temos assistido a um orientado avanço da mesma pelo mundo. Ao menos é o que nos dizem. Entretanto, por meio de eleições democráticas temos visto ascender líderes mundo a fora pondo em risco o instrumento que eles mesmos se favoreceram. Estariam subvertendo a democracia ou estaríamos nós cansados dela?

O caso brasileiro é emblemático. Existe aquele que, dizendo defender a maioria, confunde a democracia que o escolheu com a autocracia que o acolheu. Há quem vá para a frente das câmeras dizer que nossas instituições democráticas estão funcionando, mesmo com fardas nas ruas fazendo uso corriqueiro de métodos que a Gestapo bateria palmas. Há quem subverta a verdade, espalhando a mentira por acreditar que o marxismo cultural quer exterminar os valores ocidentais democráticos.

Por outro lado, há quem, conhecedor dos métodos de ruptura do Estado de direito no Brasil (pois já lançaram louros aos golpes em outras ocasiões), publique campanha no seu jornal convocando as pessoas a usarem amarelo, em memória das “Diretas Já” de 1984. Existem aqueles que defendem as Forças Armadas como moderadores da democracia, ou seja, os responsáveis pelo regime ditatorial como guardiães do governo do povo. E nessa, até quem já esteve do lado da ditadura militar, compondo o partido deles, agora defende a afamada frente única pela democracia. Não faltam detalhes onde o tinhoso possa residir, no entanto isso não é fruto do nosso tempo.

Em Atenas, na antiguidade, Demóstenes enfrentou as acusações de Ésquines utilizando-se de argumentos caros à sociedade daquela época. Pouco importa se a coroa dourada era o fato motivador da querela; ambos estavam nutridos por outros fundamentos. Se para Ésquines aquela homenagem ao seu adversário político continha os traços de regimes cuja autoridade não residia em leis democráticas, para Demóstenes subir à uma Tribuna para fazer tais acusações não era justo, tampouco democrático. Ésquines perdeu o debate. Um detalhe: ele trabalhou na infância.