Max Dias
Historiador, jornalista, professor do IFES Campus Linhares e Doutor em História

A democracia brasileira corre risco


Publicado por: Max Dias Em: Colunistas No dia: 2 de junho de 2021


Ninguém entra numa eleição para perder. As discussões acerca dos rumos do país, seus problemas socioeconômicos, suas desigualdades regionais, seu desenvolvimento sustentável, tudo isso fica escanteado num processo eleitoral. Mas, por quê? Porque ninguém está no pleito preocupado com outra coisa, senão com a vitória. É uma pena, deveria ser diferente, deveríamos avançar para estágios maiores na escala democrática, todavia há, nesse tempo, um aprofundamento do arbítrio e do desmando e não das liberdades e das boas práticas políticas.

A ação coordenada (e aviltante!) da Polícia Militar de Pernambuco para reprimir manifestantes em Recife (num recente protesto contra o governo Bolsonaro) é a face mais emblemática desse tempo onde a democracia corre risco diário e a salvaguarda parece estar sempre nas mãos armadas do Estado. Os mesmos que a esmerilham (ampliando a violência estatal cotidiana contra a população nas periferias da cidade e do campo) fazem uso da força desmedida em uma ação de rua e passam por cima de seus comandantes quando é preciso proteger o chefe predileto, o seu “capitão”. A estratégia aqui permanece: vencer o adversário a qualquer custo, já que, no caos, prevalecem as armas e elas já foram usadas outras vezes para “garantia da ordem”.

Na mesma linha, sob o discurso de proteger a Constituição, muitos seguem dilacerando-a, com ações agressivas contra os que, verdadeiramente, a defendem. Atacam as instituições e clamam pelo retorno da ditadura sob a luz do dia, enquanto a Polícia Federal e a Procuradoria Geral da República preparam o arquivamento daquilo que todos nós assistimos estupefatos.

Por fim, o retrocesso do país assume uma aparente aura democrática sob o enfadonho discurso do voto impresso. Segundo narram os entusiastas do nióbio e da cloroquina, a urna eletrônica é fraudada a cada pleito e, inclusive, Jair Bolsonaro teria sido eleito no primeiro turno, caso o voto fosse impresso. A estratégia de colocar tensão sobre a eleição serve para desestabilizar o adversário e, assim, se aproximar da vitória.

Recentemente, nos EUA de Donald Trump, a sua base política criticava o voto por correio, reforçando um discurso de rejeição ao resultado que as urnas ainda nem haviam dado. A invasão de desatinados ao Capitólio em janeiro deste ano foi só um episódio dessa novela que vinha sendo construída há meses. Se a democracia da maior economia do mundo sofreu abalos com essa chocante cena, por aqui, nós, tão desacostumados a regularidade democrática, já “sopramos” (na boca miúda) que o pior está por vir.