Max Dias
Historiador, jornalista, professor do IFES Campus Linhares e Doutor em História
Publicado por: Max Dias Em: Colunistas No dia: 1 de setembro de 2020
“De boas intenções o inferno está cheio”. A famosa frase que abre este texto tem um tanto de omissão com um muito de verdade; ela serve para o debate post mortem para aqueles que adoram se aventurar na tarefa de opinar sobre os que vão para o paraíso ou para a danação, como os pastores evangélicos Everaldo (PSC) e Flordelis (PSD).
A cada domingo os seus púlpitos se enchiam de regras a serem cumpridas pelos fiéis para alcançarem a vida eterna. Durante a semana, no horário de expediente das suas atividades políticas, esses dois pastores aproveitavam para acusar LGBT’s, feministas e comunistas de serem os destruidores da família tradicional brasileira. Após o fechamento do turno de trabalho, segundo apontam as investigações, o pastor Everaldo praticava o milagre da multiplicação dos desvios financeiros e a pastora Flordelis buscava maneiras de se separar do marido “sem cometer pecado”.
Historicamente a Reforma Protestante serviu para romper com o poder político da Igreja Católica Romana, bem como estabeleceu bases morais sólidas para o desenvolvimento do capitalismo em algumas regiões do planeta. Mesmo tendo suprimido, por meio das armas, manifestações teológicas populares como a de Thomas Muntzer, certamente Martinho Lutero não imaginava que as suas interpretações religiosas levariam pastores evangélicos em pleno século XXI a serem tão falsos quanto os criticados bispos do catolicismo do Quinhentos.
A pastora Flordelis, por exemplo, contou com a ajuda de alguns dos seus 55 filhos (!) para executar o marido. De acordo com o inquérito policial, todo o problema girou em torno da gestão financeira das igrejas que ela e Anderson do Carmo pastoreavam. A história se torna mais bizarra quanto mais se mexe no enredo. As trocas de casais em espaços de swing viraram cortina de fumaça quando veio à tona que a pastora entregava suas filhas para relações sexuais com pastores estrangeiros. Suspensa do partido e da bancada evangélica da Câmara a deputada só não pôde ser presa porque goza de imunidade parlamentar.
Já o Pastor Everaldo se gaba de ser uma liderança cristã que defende o Estado Mínimo – ou seja, o corte de receita em saúde, educação, cultura e assistência. Porém, quando viu a oportunidade, aproveitou para fazer uso do Estado ao máximo em prol de si mesmo. Everaldo também é o responsável pelo batismo de Jair Bolsonaro. A encenação batismal no Rio Jordão diz tanto sobre o presidente católico quanto acerca do pastor evangélico.
Mas se Everaldo e Flordelis aguardam de Jesus a mesma piedade que ele teve com o ladrão crucificado ao seu lado, para o outro Messias é melhor fingir de morto, antes que as investigações descubram o quão próximo eram os pastores de sua vida.