Max Dias
Historiador, jornalista, professor do IFES Campus Linhares e Doutor em História

O PT e a navalha de Ockham


Publicado por: Max Dias Em: Política No dia: 28 de junho de 2020


O PT não vive, historicamente, o seu momento mais difícil. O partido foi criado em 1980 quando a ditadura militar se preparava para sair de cena, porém buscava deixar uma “arrumação” política capaz de atenuar quaisquer elementos que relembrassem o turbulento período pré-1964. Quer dizer, a chamada ameaça comunista seguia, aparentemente, circundando o país como se pudesse, a qualquer hesitação das Forças Armadas, implantar um novo projeto político revolucionário. Portanto, os históricos partidos de tradição soviética, albanesa ou chinesa, como o PCB e o PC do B, seguiam proibidos mesmo após o restabelecimento do pluripartidarismo. Diferentemente, o PT se formou (fruto das lutas populares do final dos anos 1970) com a anuência dos militares. Eles permitiram. Os pressupostos para essa permissão são dois, basicamente: ampliar a divisão entre os partidos de oposição e a descrença na capacidade de arregimentação eleitoral do PT.

Se durante os anos 1980 o partido experimentou os desafios de legislar, bem como chefiar municípios e metrópoles, a derrota presidencial em 1989 apresentou um limite para a sua ascensão, apesar de ter consolidado uma média de predileção entre os eleitores em torno de 20%. Foi a década seguinte que apresentou ao PT um grande dilema, após duas derrotas seguidas para Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Esse dilema o levou a uma pergunta de resposta simples, apesar de capciosa: como vencer a eleição presidencial? Se você respondeu: “tendo mais votos que os adversários”, você também já entendeu uma parte da navalha de Ockham. Todavia ainda lhe falta o essencial: de que forma?

A conclusão definitiva para essa questão levou o PT a uma guinada, gerando crises internas – apesar do crescimento entre 1994 e 1998 nos seus índices eleitorais até a vitória definitiva de Lula em 2002. O partido aprendeu como se ganha uma eleição já que, do mesmo modo, aprendeu a perder. Aliás, só é possível conhecer o que se é capaz de experimentar, nos diria William de Ockham.

Tendo conhecido as derrotas, as vitórias e o impeachment, o PT entrou nas eleições de 2018 sob críticas de todos os lados, mas, enquanto partido político voltado às disputas eleitorais em uma democracia liberal só lhe restava o mesmo paradigma de 1989: como vencer a eleição presidencial? Não lhe cabia outra razão como não cabe a qualquer outro partido imerso nessa lógica. Os que pregam a cassação definitiva do registro do PT entenderam bem o paradigma. Já os que crêem que o PT deve abrir mão da disputa presidencial tendo cerca de 25% do eleitorado, não. “A explicação que exige o menor número de suposições ou variáveis provavelmente é a mais correta”, pontuava Ockham. Foi desse modo que o PT experimentou a vitória após ter conhecido a derrota e foi desse mesmo modo que o PT experimentou a derrota após ter conhecido a vitória.