Max Dias
Historiador, jornalista, professor do IFES Campus Linhares e Doutor em História
Publicado por: Max Dias Em: Colunistas No dia: 20 de maio de 2022
Toda a campanha iniciada nas redes sociais em favor do voto útil no primeiro turno das eleições presidenciais trouxe consigo a imagem da história, mais precisamente do pleito envolvendo Juscelino Kubitschek (JK) em 1955. Se por um lado não parece razoável imaginar que o voto útil ainda esteja em voga em pleno século XXI, por outro, é nítido que o discurso de ruptura democrática ainda tem os seus adeptos no ano de 2022. É o fim da linha, literalmente.
Retornando ao passado, em 1955 a legislação eleitoral não previa o segundo turno. O que parece algo tão básico para garantir a legitimidade da vontade popular não fazia parte do repertório político inaugurado com a Constituição de 1946. Desse modo, era de se esperar que, em algum momento, uma candidatura derrotada por pequena margem de votos faria uso de qualquer expediente para tentar melar a eleição. Foi o que aconteceu em 1955. A União Democrática Nacional (UDN), partido político de caráter conservador e interessado há tempos num golpe de estado, travou uma batalha jurídica que por pouco não terminou em intervenção militar. E como pouco é quase nada, em 1964 o golpe militar viria sob aplausos da UDN e de tantos outros setores entreguistas brasileiros. Quer dizer, JK venceu uma batalha em 1955, mas a democracia perdeu aquela guerra que durou anos.
A história ensina o presente. Os defensores do voto útil compreendem de forma nítida que o país está caminhando sobre uma corda bamba e o despenhadeiro mostra o quanto a democracia corre riscos. Então, é preciso fortalecer a ideia de que as urnas são confiáveis e o atual presidente não tem o apoio da maioria da sociedade. Como Lula está na frente das pesquisas, é nele que o povo deve votar, dirão os lulistas. Nessa perspectiva parece razoável crer no voto útil como único freio capaz de impedir o ímpeto golpista de Jair Bolsonaro.
Porém, a eleição é, sem dúvida, uma ótima ocasião para debate de ideias e projetos de Brasil. Como calar as dissonâncias num país de extensão continental em que pouco se discute política fora dos anos eleitorais? Logo, os detratores do voto útil têm razão quando defendem a máxima extensão possível dos debates rumo ao pleito porque isso qualifica uma democracia (não creio que eles tenham motivos suficientes para acreditar na força das nossas instituições nem na idoneidade das Forças Armadas, mas a fé alheia não se discute).
Assim, a descabida discussão surgida nas redes sociais tem pouco de efetiva na medida em que as premissas de ambos os argumentos não conseguem se anular. Entretanto, tal cenário torna a tarefa dos poderes republicanos ainda mais significativa, pois garantir que o debate pré-eleitoral qualifique um projeto para o país é tão necessário quanto fazer valer a vitória do candidato que obtiver maior número de votos. Afinal, democracia se faz com debate de ideias e respeito ao resultado das urnas.