Você acredita em racismo nas abordagens policiais? Site ouviu policial de Cachoeiro e morador do Zumbi

O estudante de História Daniel Freitas já foi abordado pela polícia duas vezes na mesma rua em Duque de Caxias, sem nenhuma explicação Foto: Hermes de Paula

Publicado por: Agencia de Notícias Em: Geral No dia: 4 de junho de 2021


Diversos casos de racismo durante abordagens policiais tem sido denunciado nas redes sociais. Em Cachoeiro de Itapemirim, o site radar365 pegou o depoimento de um policial que preferiu não se identificar mas afirmou “temos um perfil pré-estabelecido de possíveis criminosos e na maioria dos casos são negros, porém, não só negros, mas um outro exemplo são os que possuem tatuagens”, afirmou.

Morador do bairro Zumbi, em Cachoeiro de Itapemirim, que preferiu não se identificar, afirmou que “morar no bairro é uma credencial para sofrer abordagens constantes, andar nas redondezas, como se ser morador do bairro fosse uma declaração explicita de que você é um criminoso”, disse.

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Quando Daniel de Souza Freitas, de 22 anos, encontrou o irmão Lucas, de 17, assustado na sala de casa, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, soube na hora que o mais novo tinha sido abordado por um policial. Ele próprio não consegue precisar quantas vezes foi parado por agentes e, como irmão mais velho, sentiu que deveria explicar sua estratégia para essas situações:

— Falei para ele ficar calmo e mandei o papo reto: “Eu sou preto, você é preto, vamos ser parados pela polícia direto. Tem que se acostumar, infelizmente. Fica quieto, deixa os caras falarem, não se mexe, não deixa de dizer bom dia, boa tarde ou boa noite, educação conta nessas horas. E nunca, nunca mesmo, saia de casa sem a carteira de identidade”.

Casos de abordagens policiais consideradas racistas, comuns para a população negra, vêm ganhando as redes, seja por iniciativas como a campanha-pesquisa “Por que eu?”, lançada em maio pelo Data Labe, laboratório de informações e narrativas do Complexo da Maré, em parceria com o Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD), ou pela repercussão de casos recentes em Goiás e São Paulo.

— Esses são relatos que estão chegando à mídia, mas, para nós, isso não é novidade — diz Paulo Mota, coordenador de dados do Data Labe. — Nosso desafio é pensar: como vamos captar quantitativamente, com metodologia bem fundamentada, algo que temos certeza, empiricamente, que acontece?

‘Voltei pra casa indignado’

As estratégias de Daniel para lidar com enquadros da polícia “funcionaram” nas mais de 15 vezes (“Perdi a conta, sem brincadeira”, diz) em que ele foi abordado. Não sabe se por sorte ou se pela boa educação (“Digo sempre bom dia, boa tarde ou boa noite”, repete), jamais sofreu violência física. Em 2019, na volta da prova do Enem, chegou a ser parado duas vezes no caminho. Quando trabalhava entregando quentinhas, precisou abrir a mochila e mostrar que levava de fato comida. E na vez que mais lhe dói, a polícia o abordou mas deixou passar dois rapazes brancos andando na mesma calçada. Assim que a viatura desapareceu, depois de tê-lo revistado, conta, “os brancos assaltaram uma senhora”.

— Voltei para casa indignado. Falei para minha mãe: “Eles me pararam, mas os rapazes brancos é que eram os bandidos”. Ela me deu uma bronca, disse que eu é que estava errado por andar na rua àquela hora. Fiquei frustrado: “Poxa, mãe, errado por quê? Não tenho o direito de andar na rua?” — conta Daniel, que passou para a faculdade de História na UFRJ e hoje faz treinamento para trabalhar com telemarketing.

Na semana que passou, dois casos de abordagens policiais racistas chocaram o país. Na última sexta-feira, o eletricista Filipe Ferreira, de 28 anos, foi parado pela polícia em Cidade Ocidental, localizada no entorno de Brasília, no estado de Goiás, quando fazia manobras de bicicleta e as gravava com o celular.

O vídeo mostra o policial aos gritos apontando-lhe a arma assim que se aproxima. O ciclista e youtuber pede para que ele baixe a arma, e o agente responde: “Esse é o procedimento. Isso é uma abordagem. Se não obedecer, vai ser preso”.