Pedro Vals Feu Rosa
Desembargador desde 1994, foi presidente do Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES) no biênio 2012/2013.
Publicado por: Pedro Vals Feu Rosa Em: Colunistas No dia: 27 de julho de 2020
Segundo os historiadores havia em Roma uma certa “Via Triumphalis”, utilizada comumente durante os “triunfos” – cerimônias nas quais eram exaltadas as glórias dos “triumphatores”, identificados como “quase divinos”.
Li, certa vez, que Calígula desejava desfilar com suas tropas por esta via após a campanha militar que empreendera na Britânia e na Germânia. Havia, porém, um problema: nada fora conquistado. Como enganar-se o povo?
A solução foi simples: pessoas com aparência de germânicos ou bretões foram contratadas e desfilaram fantasiadas de escravo, legitimando a mentira oficial de que conquistas haviam sido obtidas.
Mas deixemos Roma para lá. Afinal, trata-se de assunto antigo. Ultrapassado. Tratemos dos nossos tempos – é mais sábio.
Tempos bicudos, aliás. Nos Estados Unidos, 25% das crianças abaixo de 12 anos passam fome. No Reino Unido uma a cada dez crianças vive na miséria. Na França 8% dos menores de 18 anos estão entregues à pobreza – mal que afeta uma a cada sete crianças alemãs. E no tão rico Brasil – ali, do outro lado da rua – um exército de 50 mil crianças perambula à cata de esmolas. Fazem parte de uma massa de 23 milhões de jovens indigentes.
Segundo a OMS um terço da humanidade não consegue água tratada sequer para beber. Dois bilhões de seres humanos não têm acesso a saneamento básico nem em visita a centros de saúde. Estima-se que, a cada dia, vinte brasileirinhos morrem em função de doenças causadas pela falta deste tão primário serviço público.
Enquanto isso um terço da população urbana do mundo vive em favelas. E 55% dos nossos semelhantes não contam com proteção social na infância, na maternidade, na invalidez ou na velhice – vale dizer, estão rigorosamente largados por aí.
Paradoxalmente, porém, nunca gastou-se tanto em publicidade oficial pelo planeta afora. São fortunas incalculáveis. Li que nos Estados Unidos, em apenas cinco meses, a administração pública destinou US$ 135 milhões a uma única rede social para este fim – e fico a pensar no cálculo global. No Brasil, há alguns anos, apurou-se que apenas a administração federal direta gastava anualmente R$ 455 milhões e a indireta, através de empresas estatais, nada menos que R$ 724 milhões. Acrescente-se a isso o que se gasta a nível estadual e municipal.
Via Triumphalis… onde fica mesmo este endereço?