Em: Geral No dia: 8 de agosto de 2020
Professores das redes de ensino pública e privada do Estado de São Paulo não pretendem aderir ao calendário do governo de reabertura parcial das escolas para “aulas de reforço” em 8 de setembro. Maria Izabel Noronha, presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (APEOESP), afirma ainda que a categoria já cogita uma greve caso haja pressão do setor para o retorno dos profissionais.
“Não há nenhuma possibilidade de voltarmos agora, nem gradativamente. E quem tem que assumir essa responsabilidade é o governo ou a secretaria de educação, pelo menos com os alunos, já que não respeitam os professores”, comenta, afirmando que cerca de 30 a 40% dos professores poderiam aderir à paralisação. “Sempre fizemos greve por outras questões e dessa vez será pela defesa da vida.”
Para Maria Izabel, o governo estaria “mais preocupado com as escolas particulares do que com os filhos da classe trabalhadora”. Ela também aponta que, ao longo da pandemia, muitas crianças migraram da rede privada para a pública, “onde muitas escolas sequer têm água”.
Durante coletiva de imprensa desta sexta-feira, 7, o governo de São Paulo adiou para 7 de outubro a volta às aulas no Estado todo, mas vai permitir que as instituições que estão em regiões na fase amarela há mais de 28 dias possam reabrir seus espaços no dia 8 de setembro. O secretário estadual de educação Rossieli Soares anunciou a compra de 12 milhões de máscaras, 300 mil face shields, 10 mil termômetros e 10 mil totens de álcool em gel para a retomada das aulas. Na capital, o secretário Bruno Caetano também afirmou que seriam inauguradas 26 escolas na rede municipal até setembro.
Para Benjamin Ribeiro da Silva, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo (SIEEESP), a flexibilização para a reabertura parcial de escolas em 8 de setembro favorece a rede privada, mas não chegaria a prejudicar alunos da rede pública. “Elas já investiram em protocolos, equipamentos e treinamento de profissionais, até porque o cliente não busca só a qualidade de educação, mas também a segurança.”
Ele afirma que o SIEEESP vai encaminhar uma orientação para que as instituições apliquem a retomada parcial com foco em alunos de 0 a 8 anos, os quais teriam apresentado mais dificuldade de adaptação ao modelo online. Mesmo assim, professores da rede privada também se mostram contrários a ideia de retomarem suas atividades.
“Isso nos parece uma proposta que tentou acomodar duas questões inconciliáveis: o interesse econômico da rede privada, que quer reabrir a qualquer custo; e os critérios epidemiológicos”, afirma Silvia Barbara, diretora de imprensa do SinproSP, que representa os professores de escolas particulares na capital. “Desde março, defendemos uma regra que valesse para todas as escolas, que não dá para deixar na mão de cada uma o que vai acontecer.”
Benjamin entende que “não dá para fazer tudo de uma vez”, mas acredita que qualquer reabertura possível já é um avanço a ser celebrado. “Muitas famílias ainda estão inseguras em mandar seus filhos de volta à escola, então precisamos respeitar, da mesma forma que temos outros que precisam trabalhar e vão ser ajudados.”
Essa abertura, ele reforça, será ainda mais positiva para a educação infantil, que tem sofrido com o crescimento de creches clandestinas, que não teriam preparação psicológica ou pedagógica, nem respeito às regras sanitárias. “Os alunos maiores já são um legado da pandemia, porque interagiram muito bem com as aulas online”, observa.
A tese pode ser verificada no ensino superior, onde a maioria dos alunos optou por continuar com o modelo online, que será aplicado em quase todas as instituições. “No geral, as universidades programam para voltar apenas com as aulas práticas e laboratoriais, que são impossíveis de serem feitas remotamente”, explica Rodrigo Capelato, presidente da Semesp, entidade que representa mantenedoras de ensino superior no Brasil.
Até nessas aulas, que devem começar a partir da próxima segunda-feira, 10, universidades têm criado protocolos para evitar aglomerações, como o agendamento de uso dos laboratórios ou um esquema de “bolhas”, onde os alunos são divididos em blocos que estudam uma única disciplina ao longo da semana. “Dessa forma, se houver contaminação o impacto é muito menor e não precisaria parar a escola inteira.”