Em: Internacional No dia: 16 de outubro de 2020
A polícia da Tailândia usou canhões de água nesta sexta-feira, 16, pela primeira vez desde o início do movimento dos protestos, para tentar dispersar milhares de manifestantes que desafiaram uma proibição das manifestações pelo segundo dia e apesar de um alerta do primeiro-ministro, Prayuth Chan-ocha.
“Saiam, saiam”, bradavam os manifestantes enquanto a polícia empregava os meios mais violentos até agora para deter três meses de protestos que contestam a monarquia do rei Maha Vajiralongkorn e exigem a saída de Prayuth, um ex-governante militar.
“O governo ditatorial está usando a violência para dispersar o movimento do povo”, disse Tattep Ruangprapaikitseree, um dos líderes do protesto. Os manifestantes reagiram, alguns com guarda-chuvas, e alguns atiraram garrafas de plástico nos policiais do batalhão de choque.
Uma proibição a reuniões de mais de cinco pessoas foi imposta na quinta-feira, 15. “Emitimos alertas contra atos ilegais”, disse o porta-voz da polícia, Yingyot Thepchamnong, aos repórteres. “Depois disso, haverá medidas intensivas no cumprimento da lei.”
Prisão de ativistas
Um cartaz de protesto dizia “Libertem nossos amigos” – uma referência à prisão de mais de 40 manifestantes, incluindo vários de seus líderes, durante a intensificação da repressão governamental nesta semana.
Dois ativistas, Ekachai Hongkangwan e Bunkueanun Paothong, foram presos na sexta-feira. Os atos de que são acusadas não foram especificados no momento, mas foram presos com base no artigo 110 do código penal tailandês, segundo o qual qualquer “ato de violência contra a rainha ou sua liberdade” pode ser condenado com até 16 anos de prisão e prisão perpétua. Estas são as acusações mais graves pronunciadas desde o início do protesto.
Na quarta-feira, 14, um carro com a Rainha Suthida a bordo, que as autoridades disseram não poder evitar o caminho de uma grande manifestação pró-democracia em Bangcoc, parou brevemente e dezenas de manifestantes levantaram três dedos na frente de seu veículo, um sinal de resistência inspirada no filme Jogos Vorazes e um gesto de desafio à autoridade real.
Os dois detidos estavam no local. “Sou acusado de ter tentado fazer mal à rainha”, mas “sou inocente. Não era minha intenção”, declarou Bunkueanun Paothong antes de ser preso.
“Tenho que lutar por meu futuro”, disse Pin, universitária de 22 anos que não quis informar o nome completo.
O movimento pró-democracia planejava se reunir em Ratchaprasong, um grande cruzamento no centro da capital. Mas as entradas principais estavam fechadas desde o início da tarde e a polícia estava posicionada no local, então os manifestantes ficaram assim a algumas centenas de metros do local.
“Aos poucos, temos mais e mais coragem”, disse Nine, uma estudante de 21 anos, à AFP. “Se eu não correr riscos, não haverá mudança”, acrescentou.
“Os pobres estão ficando mais pobres, os ricos estão ficando mais ricos neste país, um dos mais desiguais do mundo”, Pim, 20, lançou ao lado dele.
Na quinta-feira, cerca de 10.000 pessoas já desafiaram a proibição de se reunir em manifestações no centro de Bangcoc.
Protestos pedem renúncia do primeiro-ministro
O movimento pró-democracia pede a renúncia do primeiro-ministro, Prayut Chan-O-Cha, e uma reforma da poderosa e rica monarquia, um assunto ainda tabu até recentemente no reino. Os manifestantes também querem uma nova Constituição no lugar da que foi esboçada sob o controle dos militares.
Prayuth assumiu o poder pela primeira vez como chefe do Exército em um golpe de 2014. Críticos dizem que ele orquestrou uma eleição geral no ano passado para se manter no poder como premiê civil. Ele diz que a eleição foi justa.
Maha Vajiralongkorn, que subiu ao trono em 2016 após a morte de seu pai, o venerado Rei Bhumibol, é uma figura controversa. Em poucos anos, ele fortaleceu seus poderes, especialmente assumindo diretamente o controle da fortuna real. Suas frequentes estadas na Europa, mesmo em meio à nova pandemia de coronavírus, também levantaram dúvidas.
O primeiro-ministro emitiu as medidas emergenciais na quinta-feira, um dia após o incidente com o cortejo da rainha. “Não infrinja a lei!”, Alertou ele na sexta-feira. “Não vou renunciar”, avançou.
Mais de vinte militantes, incluindo vários líderes do movimento, foram presos logo após a entrada em vigor do decreto. Um deles, Anon Numpa, foi levado de helicóptero para Chiang Mai, cidade ao norte do país, onde não obteve fiança, segundo seu advogado.
A Tailândia é um país acostumado à violência política, com 12 golpes desde a abolição da monarquia absoluta em 1932. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)