Max Dias
Historiador, jornalista, professor do IFES Campus Linhares e Doutor em História
Publicado por: Max Dias Em: Colunistas No dia: 14 de outubro de 2022
É muito difícil falar de coerência ideológica ou programática entre os partidos políticos no Brasil. Se a democracia vive cambaleante por aqui em pleno século XXI, parte do problema reside nessas agremiações que, em geral, guardam apenas no nome a sua coerência ideológica. Para você que é mais jovem, fica o lembrete: em 2002 o Partido dos Trabalhadores (PT, do então candidato Lula) e o Partido Liberal (PL, do atual presidente Jair Bolsonaro) formaram uma coligação que saiu vitoriosa para a presidência da República. Luiz Inácio Lula da Silva e o empresário José de Alencar conseguiram derrotar a chapa liderada pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB, do então presidente Fernando Henrique Cardoso).
Naquela ocasião o PT parecia ter dado uma definitiva guinada na sua trajetória, mantendo em seu interior agrupamentos de esquerda os mais diversos (e eles ainda seguem por lá), todavia apresentando-se cada vez mais nas disputas majoritárias enquanto parte do centro político. Se ideologicamente é possível dizer que o PT ainda é um partido de esquerda, suas experiências presidenciais não fazem jus ao seu programa. Isso joga uma tremenda contradição quando se analisa, de fato, o partido no século XXI.
Por outro lado, o PL nunca foi experimentado na presidência. Apenas na vice, nos tempos da sua dobradinha com Lula. Jair Bolsonaro é um recém-filiado e o que temos visto até agora são apenas medidas de intervencionismo econômico e uma eterna tentativa de medir os costumes sociais por meio da sua régua. Se analisado o caráter ufanista do seu governo, temos por certo que o liberalismo passou bem longe dali. Quer dizer, o PL só tem liberal no nome, apesar de deter a presidência da República.
No meio dessa sopa de letrinhas tem o PSDB, outrora maior adversário eleitoral do PT e que nessa conjuntura cedeu um dos seus mais destacados quadros políticos para compor a vice com Lula. Geraldo Alckmin, hoje no PSB (e tome sigla!), foi um dos expoentes dos tucanos. Abduzido pelo bolsonarismo, o PSDB parece ter se tornado uma peça de museu após o pleito de 2022. Caberá aos historiadores contarem sobre o ápice e decadência de um dos maiores partidos políticos que o país teve. Sua ideologia exauriu com a própria social-democracia europeia. Já o seu programa foi subsumido à escalada autoritária da sociedade brasileira. Era de se esperar.
Confusos com as siglas e seus programas pendulares, neófitos dirão: “voto em candidatos e não em partidos”. Eis o buraco em que nos metemos. É o desprezo às agremiações no contexto democrático que empurra o eleitorado para o colo das soluções autoritárias. E de salvador em salvador da pátria a República se vê, cada vez mais, às vésperas de uma tirania.