Max Dias
Historiador, jornalista, professor do IFES Campus Linhares e Doutor em História
Publicado por: Max Dias Em: Colunistas No dia: 3 de junho de 2022
Semana vai, semana vem e o presidente segue fortalecendo suas bravatas contra as instituições colocando em risco a própria República. Já virou um assunto batido nesta coluna. Mas pra “variar”, dessa vez a crise política tem no ministro do STF Kassio Nunes Marques (indicado por Bolsonaro) um pivô. Sua decisão favorecendo dois políticos da base bolsonarista jogaram mais uma vez o holofote presidencial sobre o TSE.
No caso do deputado estadual paranaense Francischini, o evento que levou à cassação do seu mandato remonta a 2018. Na ocasião, o bolsonarista havia afirmado que as urnas eletrônicas foram fraudadas e que Bolsonaro teria vencido no primeiro turno. Tamanha falsidade ganha, agora, sobrevida com o auxílio de Nunes Marques que deveria resguardar as instituições e não destruí-las. A liminar do ministro foi a senha para uma nova rodada de ataques presidenciais.
Apesar de alguns movimentos ainda tímidos, tem crescido entre setores da sociedade a necessidade de reforçar o discurso em defesa do processo eleitoral e da constituição. Os ministros do STF não assumem, tampouco os congressistas, mas a crise social e econômica que vivemos pode levar Jair Bolsonaro a bancar uma tentativa de ruptura da ordem. Se não por meio de armas (golpe clássico), pela desestabilização da república, pela desordem e pela violência do aparato militar mais alinhado com o seu pensamento. Reparem: não há, até o momento, uma personalidade militar de alta patente, com um bom séquito, que tenha se levantado enfaticamente em defesa das eleições de 2022. Por outro lado, espalham-se como ervas daninhas os discursos de inviabilização das eleições e os ataques às urnas eletrônicas.
É importante recordar que na Alemanha foi a forte crise econômica e social, aliada a uma intensa frustração coletiva ante as instituições da República de Weimar, que tornou possível a chegada dos nazistas ao poder. A manutenção deles no governo foi uma questão de tempo. Tendo elencado uma fictícia lista de inimigos do povo alemão, a caçada foi apenas a conclusão de um projeto que já estava em curso.
O caso extremo dos alemães nos serve de exemplo para entender o esperneio cotidiano de Bolsonaro e dos seus seguidores. Acreditar que nossa democracia está em pleno funcionamento e é inviolável pode ser tão inocente quanto crer que Hitler chegou ao seu propósito mesmo tendo as instituições republicanas trabalhando contra ele. Na verdade, as impotentes vozes pela democracia não fizeram número ante aos gritos pela tirania que ecoavam por lá. Por aqui, seguimos arriscando.