Max Dias
Historiador, jornalista, professor do IFES Campus Linhares e Doutor em História

O pelourinho não é exceção. É regra.


Publicado por: Max Dias Em: Sem categoria No dia: 24 de novembro de 2020


Mesmo que o presidente e seu vice digam o contrário, existe racismo no Brasil. O cargo ocupado pelos eleitos, ou mesmo a patente que lhes foi dada no exército, não torna a suposta tese sociológica da democracia racial brasileira uma verdade. Ela é apenas conveniente e não consegue apagar a estrutura racista que mata mais Betos Freitas que Pedros de Alcântara.

Os signatários da tal democracia racial brasileira não conseguem provar porque tem mais negros na cadeia que na magistratura ou mais negros nas geladas camas do IML do que fazendo a autópsia dos corpos. Tratam o geral enquanto específico e preferem acreditar que há, apenas, critérios individuais para se analisar uma problemática histórica. Perguntados acerca do motivo que leva um negro a ocupar uma cadeira no STF apenas em 2003 dizem que nenhum outro, anteriormente, teve mérito. Respondem, na mesma toada, que as prisões se enchem de negros porque preferem o crime ao trabalho. Ou seja, para a magistratura se esforçaram pouco e para a criminalidade o esforço tem sido demais. Simples assim. São as cotas que criam o racismo; o dia da consciência negra é racista; o negro é preconceituoso… a lista é grande, todos impropérios.

A exceção vira regra. Desportistas negros, multimilionários, não sofreriam racismo no país, pois o fator preponderante para a discriminação seria o financeiro. Pobres brancos, sem qualquer tipo de recorte étnico, segundo essa teoria, seriam diuturnamente discriminados também e do mesmo jeito que um negro desvalido. Não é o que o mercado de trabalho diz, os números do IPEA, do IBGE, a ONU, a FAO, o Unicef, o Atlas da Violência, porém os defensores da democracia racial preferem acreditar que todos esses institutos de pesquisa estão errados. O racismo não é um problema nosso.

As manifestações que visam tornar pública a postura violenta levada adiante pela multinacional Carrefour aqui no Brasil são apenas parte da luta. De forma mais ampla, todos os dias, muitíssimos negros e negras, especialmente jovens, se engajam em seus bairros construindo iniciativas capazes de vencer a discriminação racial. São projetos coletivos trabalhando para que a invisibilidade e o discurso de apagamento racial se torne em empoderamento. Soltam os cachos das minas, reforçam o black power dos manos. Cursinhos pré-Enem para ampliar o número de negros nas universidades. Bancos populares para garantir o funcionamento do próprio negócio. Candidaturas de mulheres negras para os legislativos municipais. As iniciativas são inúmeras e todas elas partem do princípio de que, infelizmente, o pelourinho é a regra nacional e a preservação da vida negra segue sendo exceção.




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