Max Dias
Historiador, jornalista, professor do IFES Campus Linhares e Doutor em História
Publicado por: Max Dias Em: Colunistas No dia: 21 de fevereiro de 2022
A viagem de Bolsonaro à Rússia guarda consigo, ainda, perguntas sem respostas claras. Entretanto, podemos considerar o seguinte ponto: a comitiva presidencial estava em Moscou por motivos relacionados ao suposto cabo de guerra da América e não pela possível guerra levada à cabo na Europa. A política internacional envolvendo o continente americano tem o seu reflexo nos EUA, do mesmo modo que as tensões ucranianas refletem sobre a Rússia. Estamos falando de zonas de influência político-militar enquanto resquícios de uma constante guerra fria sob outras roupagens, cuja fantasia de “comunistas” x “capitalistas” durou bem menos tempo que as velhas e duradouras questões nacionais, sob ascendência de interesses de conglomerados comerciais.
A questão nacional é algo pouco pacificado em muitas regiões do planeta. Na Europa envolve históricos conflitos de apagamento de identidades em prol da construção de Estados Nacionais. Esses exemplos se repetem em partes da Ásia e da África, onde os próprios europeus, na era colonial, forjaram territórios fictícios para exercitarem ali os seus interesses capitalistas. Não por acaso, de tempos em tempos, assistimos no noticiário o extermínio de grupos minoritários sob a anuência do próprio Estado e dos organismos internacionais.
Se na América o poder de atração exercido pelos Estados Unidos remonta às ações expansionistas do século XIX, por lá, no leste europeu, a Rússia Imperial já exercia o seu poder sobre vastas áreas que, por fim, foram “herdadas” pela extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). A revolução de 1917 não acabou com determinadas práticas de domínio nacionalista, pelo contrário, os acentuou, tornando a luta pela libertação dos povos um mero apêndice da guerra pela adesão das nações. E isso na Ucrânia foi muito intenso gerando mortes, perseguições e migração em massa.
Sobre a viagem de Bolsonaro, o que se sabe é que, enquanto o presidente estava em Moscou, uma comitiva russa estava com Maduro na Venezuela fortalecendo laços já estreitos. Isso não deve ser desconsiderado, mas também não pode ser respondido de modo afoito. Um bom jogador sabe andar com o bispo e com o cavalo sem perder as torres. Putin sabe disso. Nesse momento Bolsonaro é um presidente distante da reeleição e perto do fim de mandato, afastado dos EUA de Biden e em colisão com vizinhos como Nicolás Maduro, no entanto, tem ferramental suficiente para tumultuar o próximo pleito, especialmente se toda a estratégia de espionagem, inteligência e guerra híbrida russa estiver à sua disposição. Não se deve ter dúvidas que a Rússia tende a jogar com quaisquer armas para tornar os seus interesses sob a Ucrânia tão controláveis quanto os interesses dos EUA sob o Brasil incontroláveis. Nessas condições é que tem se garantido o equilíbrio geopolítico no mundo. Há tempos.