Max Dias
Historiador, jornalista, professor do IFES Campus Linhares e Doutor em História
Publicado por: Max Dias Em: Colunistas No dia: 19 de novembro de 2022
Com o sumiço do atual mandatário, o noticiário se volta para as ações do presidente eleito. É como se o limbo de Jair Bolsonaro forçasse o colunismo político a encontrar uma solução jornalística qualquer para a falta de comando que afeta o país a poucos meses da nova gestão. O bolsonarismo golpista que tomou os quartéis tornou-se mais efetivo e operante que o próprio Jair Bolsonaro, tão fora de combate desde a derrota em trinta de outubro.
De alguma maneira, não parece preocupar os analistas de política o circo que está sendo montado em Brasília com o intuito de gerar o caos até o dia da posse de Luiz Inácio. De forma periférica surge na imprensa, para comandar essa empreitada de caça aos adversários da democracia, o juiz Alexandre de Moraes com seu papel de justiceiro. É para ele, apenas, que os holofotes estão virados. Parecem crer que está quase tudo sob controle. Sem mais o que dizer, surge no noticiário o tema economia, esse sim cada vez mais amplificado nos jornais.
O tema “mercado financeiro” sempre aparece de modo muito controverso no noticiário do país. Isso porque, de acordo com uma certa cartilha econômica ortodoxa, o arrocho fiscal seria uma espécie de totem que não pode ser tocado e deve ser ovacionado. Só que, quando ele é afetado, aparece um mundo de negócios desabando em gráficos do Ibovespa, porém, quando ele é preservado, tudo flui como barco a vela em mares tranquilos. Mas será que tem de ser assim mesmo? Ou tudo isso não passa de vasta especulação?
Pois bem, em meio a série de promessas de campanha, o presidente eleito tem procurado encontrar solução para a fome sem dar importância ao mapa astral do “mercado financeiro”. Enquanto consequência disso, seu empenho em garantir a permanência de um auxílio básico para os esfomeados soa, na mídia, como uma espécie de irresponsabilidade fiscal. Essa sinuca entre quebrar o difamado “teto de gastos” e ampliar a capacidade de investimento do Estado é o tormento desse pré-governo Lula.
A queda de braço no Congresso, em relação a esse tema, já está ocorrendo e, muito provavelmente, vai tomar tempo e exigir o primeiro esforço político do presidente eleito. É bom lembrar que essa bomba foi deixada por Jair Bolsonaro, no instante em que o mesmo se propôs a estender o Auxílio Brasil até dezembro de 2022 (medida claramente eleitoreira). Ao que tudo indica, Bolsonaro não faria qualquer esforço para que 2023 chegasse juntamente com a sequência do programa. Entretanto, ao perder o pleito, a primeira bomba-relógio para Lula começa a contar o tempo. E nesse momento é difícil ter certeza se o torneiro mecânico sabe ao certo como desarmar explosivos. O clima no legislativo não parece totalmente favorável. Mas nem tudo é o que parece, por fim. Veremos.