Max Dias
Historiador, jornalista, professor do IFES Campus Linhares e Doutor em História
Publicado por: Max Dias Em: Colunistas No dia: 1 de julho de 2022
É o mesmo engodo de sempre. Impressiona o quanto na política brasileira cabem oportunismos os mais diversos no instante em que o dono da caneta da vez se vê acossado pela possibilidade de perder uma eleição. Se com Michel Temer o tal discurso de enxugamento da máquina por meio de uma PEC dos “gastos” públicos soou como canto lírico nos ouvidos dos financistas de plantão (mas custou a eleição presidencial para o seu grupo político), com Bolsonaro o contingenciamento só serviu para precarizar áreas como educação, cultura e ciência.
Chegou a hora da torneira jorrar recursos para outras rubricas que podem garantir uma vitória eleitoral ao final de 2022. Está muito claro que a PEC dos bilhões, aprovada no Senado, tem tudo para turbinar um enfraquecido Jair Bolsonaro. O presidente tenta desesperadamente convencer o eleitor, principalmente o mais pobre, que vale a pena apostar mais uma vez na sua gestão. O Auxílio Brasil de 600 reais até dezembro é mais descarado que o difamado Bolsa Família. Isso não quer dizer que não seja necessário.
A oposição que esperneou, mas manteve uma postura de aprovação do texto, não tem dúvidas de que a proposta garante sobrevida eleitoral a Jair Bolsonaro. Entretanto, a péssima gestão de crise levada adiante pelo presidente e seus ministros fez da pandemia uma calamidade ainda maior elevando o número de miseráveis no país. Estamos em pleno cenário de guerra e o sofrimento de muitas famílias joga a favor da PEC dos bilhões e premia a desastrosa gestão da covid-19 por parte de Jair Bolsonaro. Infelizmente. Um gestor mal-intencionado consegue, numa situação limite, favorecer-se do caos e da desordem que ele mesmo plantou. Será congratulado em dezembro por tal acinte? Tenho dúvidas.
Porém, a necessidade que paira sobre os mais pobres mostra o quanto a presença do Estado na economia pode, muitas vezes, saciar a fome. E é disso que a PEC dos bilhões também trata. O mais interessante nisso tudo é o quanto a PEC dos bilhões torna pueril muitos dos argumentos em favor do liberalismo econômico. Em tempos de crise, o palavreado de Paulo Guedes não convence nem a ele próprio.