Max Dias
Historiador, jornalista, professor do IFES Campus Linhares e Doutor em História
Publicado por: Max Dias Em: Colunistas No dia: 8 de abril de 2022
Não há espaço vazio na política. Não por acaso, quando as candidaturas se movimentam, com elas vêm o movimento dos votos. As pesquisas desta semana indicaram uma revoada dos votos de Moro para outros candidatos, inclusive para o próprio Bolsonaro, desafeto do ex-juiz. Não existe muita cerimônia nessa história. É fácil entender que ambos, presidente e ex-ministro, se favoreceram com o crescente antipetismo em 2018 e os seus eleitores nem se importam com o fato deles terem rompido. O objetivo número zero segue em alta para estes agrupamentos: não permitir o retorno de Lula (PT) ao Planalto.
Por mais que uma parcela dos antigos votos de Moro pareça aumentar as intenções em Ciro, novamente a falta de dois dígitos do cearense pesa a favor de Bolsonaro num segundo turno. Por mais que União Brasil, MDB, PSDB e Cidadania reforcem o discurso de que terão candidatura presidencial, o espaço vazio não ficará disponível a eles até a segunda quinzena de maio. Quando entrarem definitivamente no jogo eleitoral, já estarão mais do que nunca fora dele. Jair Bolsonaro ganha com isso.
A coisa do espaço vazio também pode ser analisada sob outro prisma. O ciclo eleitoral inaugurado em 2002 com a primeira vitória de Lula forçou o PSDB a reorientar o seu discurso, segundo o cientista político Cláudio Couto (FGV). Naquele instante, por sobrevivência, os tucanos precisaram se amparar cada vez mais num espectro que aninhava a direita e os conservadores, a fim de seguir polarizando nacionalmente com o PT já que este ocupara o centro, o centrão e a esquerda.
Em 2018 os tucanos perderam essa interlocução para Bolsonaro que, desde então, fortaleceu sua identidade com a direita e os conservadores, deixando o centro (não o centrão) mais órfão do que nunca. Enfraquecida de rua e de voto, a esquerda passou a não ser o único esteio lulista para 2022. Objetivamente, o espaço deixado tanto por Bolsonaro quanto pela terceira via, está no alvo de Lula e este já vem se cercando de indivíduos do mercado financeiro e do velho jogo de poder no Congresso para solidificar tais votos.
Refém, a esquerda votará em um Lula muito mais pasteurizado que o da versão 2002, mesmo que ele não consiga aglutinar em seu plano de governo pautas tão caras para os movimentos sociais brasileiros. A ordem do dia na campanha lulista é estabilidade democrática e econômica, o que já mostra, de certo modo, a vitória discursiva do velho centro político nessas eleições.