Max Dias
Historiador, jornalista, professor do IFES Campus Linhares e Doutor em História
Publicado por: Max Dias Em: Colunistas No dia: 16 de setembro de 2022
Falo com frequência aos meus estudantes: “no modelo republicano, na lógica de funcionamento de equilíbrio entre os poderes, o poder legislativo tem posição crucial, todavia é o voto que o cidadão menos observa ou se preocupa”. A pesquisa Datafolha desta semana apontou que mais de 2/3 dos eleitores ainda não escolheram o seu deputado. É uma lástima. Reforço aos estudantes assim: “é a pura demonstração do nosso atraso enquanto democracia”.
Não se importar com o voto para os cargos proporcionais faz com que surjam imensas contradições na hora de organização das forças políticas que vão apoiar ou se opor ao presidente da República (ou governador) e torna a tarefa do Executivo ainda mais assombrosa. Todos os chefes da República governam com a necessidade de apoio dos legisladores. Isso é o beabá da política.
No geral, se a legenda do presidente da ocasião alcança 1/5 dos votos é muito. A coligação sempre contribuiu para a melhoria desses números, mas, na verdade, era no pós-eleição que os acordos por ocupação de espaços nos ministérios ajudava a reequilibrar as forças no Congresso. Candidato, Jair Bolsonaro reiterava que não convidaria o centrão para o seu governo em razão dos muitíssimos casos de corrupção. Eleito, sem qualquer chance de aprovar medidas no parlamento, foi lá e não pensou duas vezes: entregou as chaves do cofre para Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados. É melhor trair o seu eleitorado que os representantes desses mesmos eleitores.
A questão do voto majoritário pesa muito numa democracia. Não por acaso as pessoas se mobilizam sobremaneira em torno dos seus cabeças de chapa. Por mais que os projetos de país desses candidatos envolvam os seus apoiadores, é infantil acreditar que o presidente eleito vai governar por decreto. Ele necessitará de um parlamento aliado. Mesmo assim, a saga continua do mesmo modo em 2022: as pessoas continuam deixando para a última hora a escolha do seu parlamentar.
Uma estratégia que tem sido comum em 2022 para fortalecer a identificação do postulante a deputado é atrelar a sua imagem ao do candidato à presidência. Não que isso seja uma grande novidade, porém o tempo de parlamentares independentes parece ter se esgotado. É uma pena porque a tarefa do legislador é também fiscalizar o Executivo. Isso garante lisura à República. Todavia, se as pesquisas têm mostrado que 80% da população já escolheu o seu presidente, nesta hora posar ao lado de Lula ou Jair Bolsonaro pode ser crucial.