Max Dias
Historiador, jornalista, professor do IFES Campus Linhares e Doutor em História

O campeonato de dois turnos


Publicado por: Max Dias Em: Sem categoria No dia: 3 de novembro de 2020


A política e o futebol utilizam frases de efeito parecidas para explicar um fenômeno também idêntico: ninguém ganha de véspera. Mesmo sendo, a eleição municipal desse ano, uma corrida de curta distância, a síndrome do “cavalo paraguaio” aparece como uma tormenta para muitas candidaturas. Por detrás da história do cavalo paraguaio sobrevive uma série de contos. O mais aceitável destes diz que o tal equino do nosso vizinho sul-americano seria, na verdade, um animal proveniente de Pernambuco e cujo feito maior teria sido vencer o Grande Prêmio Brasil de turfe em 1933. Era um azarão, ninguém apostava nele, mas o bicho foi lá e quebrou a banca. Por outro lado, há quem defenda que o termo “paraguaio”, que faz par com o cavalo, tem base numa discriminação histórica construída sobre uma rivalidade de guerra do século XIX, com seus efeitos ainda arraigados entre o nosso povo. Os paraguaios teriam saído vitoriosos no início, mas derrotados ao final.

Deixando o cavalo e os nossos irmãos paraguaios em segundo plano, a verdade é que tem muito candidato sofrendo de véspera igual ao peru de Natal, principalmente após mais uma série de pesquisas eleitorais divulgadas na última semana. Como todo jogo é jogado e a partida só acaba quando termina, há espaço para algumas mudanças de posição até o resultado definitivo. O analista político precisa ser muito cuidadoso diante daquilo que se mostra no início da campanha e o que se configura ao final do segundo turno. Por falar em segundo turno, há uma máxima no futebol brasileiro que diz: o campeão do primeiro turno confirma a taça no segundo. Se essa frase não contém uma verdade absoluta (até porque alguns poucos times quebraram essa risca), por outro lado na política o debate passa ao largo. Dentro das coordenações de campanha cansa-se de dizer: o segundo turno é outra eleição.

No Rio de Janeiro e em São Paulo a corrida eleitoral colocou os dois candidatos do presidente Jair Bolsonaro na zona de perigo. Marcelo Crivella e Celso Russomano podem acabar fora do segundo turno em razão de terem diluído suas intenções de voto pretéritas. “Quem começa ganhando sempre perde”, já dizia o ditador popular futebolístico. Para quem apostava que a cadeira presidencial seria uma garantia para o sucesso nas eleições municipais, nessas duas metrópoles nem mesmo a disputa dos petistas contra os bolsonaristas está se repetindo. Para os mais afoitos, é um sinal de que o Brasil está ultrapassando a fase do Fla x Flu político. Esquecem, na verdade, que numa eleição municipal, entram em campo uma série de outros interesses difusos cujo objetivo envolve, em especial, a nova composição para as câmaras de vereadores. Ali o seu primo, o irmão do seu amigo, o tio do seu barbeiro, a prima da sua concunhada, estão tentando, tal qual o cavalo pernambucano, chegar à conquista final. Porque, nesse caso, existem mais demandas por fechamento de buracos nas ruas, médicos para unidades de saúde, guardas civis para conter a violência, vagas para crianças em creche e a reforma da quadra de esportes do bairro do que disputa valendo a principal premiação nacional.




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