Movimentos de renovação avançam no interior


Em: Política No dia: 19 de novembro de 2020


Movimentos de renovação e grupos de formação política elegeram ao menos 200 representantes neste ano. Integrantes de RenovaBR, Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps), Acredito, Agora, Livres e Vamos Juntas vão assumir mandatos no ano que vem em prefeituras e câmaras municipais, principalmente no interior do País. Analistas ouvidos pelo Estadão veem redução na tendência de renovação de 2018.

Apesar do número ser comemorado pelos grupos, eleitos e não eleitos relatam que as campanhas enfrentaram desconfiança.

O RenovaBR estará representado por 147 eleitos em 121 cidades. Entre eles, 10 prefeitos e um vice-prefeito. O número representa 14% dos associados que saíram candidatos – a mesma porcentagem de efetividade que o grupo conquistou em 2018, quando elegeu 17 de seus 117 candidatos. Entre lideranças da Raps, um a cada quatro candidatos foi eleito neste ano. Foram 50 nomes com resultado positivo nas urnas em 44 cidades; entre eles, também 10 prefeitos; outros 12 candidatos disputam o 2.º turno como cabeça de chapa ou vice. O Acredito será representado por 2 prefeitos e 16 vereadores. O Livres terá 12 representantes em câmaras. O Vamos Juntas, 11 vereadoras; e o Agora, um prefeito.

Em Bezerros, cidade de cerca de 60 mil habitantes no agreste pernambucano, a prefeita eleita Lucielle Laurentino (DEM), de 31 anos, enfrentou resistência. “Subestimam a renovação, falam que é coisa de sonhador, de jovem. Num município pequeno, há vícios na política, como a compra de votos”, diz Lucielle, que é associada a RenovaBR, Raps, Acredito e Vote Nelas.

‘Quantidade não é qualidade’

Candidata a vereadora de São Paulo pelo Cidadania, Malu Molina teve apoio de uma das principais nomes ligados à renovação em 2018, a deputada federal Tabata Amaral – mas não foi o suficiente. Malu recebeu mais de 8 mil votos e não se elegeu. Para ela, que é associada a Raps, Vamos Juntas, Acredito e RenovaBR, a pulverização de candidaturas de movimentos de renovação entre muitos partidos é um problema. O Estadão mostrou que 29 das 33 siglas do País lançaram candidatos egressos de grupos de renovação.

“É um ponto discutir a dicotomia qualidade versus quantidade”, diz Malu. “Se somarmos os candidatos de renovação em sua pluralidade, é uma chapa vencedora. Mas minha impressão é que houve uma pulverização desse campo. Cresceu, mas se fragmentou. Não foi tão coeso como em 2018. É importante fortalecer uma frente ampla que traga a discussão política para o centro, que é o campo que a renovação representa.”

O cientista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria, afirma que as demandas por renovação perderam intensidade entre 2018 para 2020 e isso se percebe no comportamento do eleitor. Uma das razões é que a ideia de “renovação” pode ter ficado associada a figuras de fora de política e que não necessariamente passaram por algum tipo de preparação.

“Neste ano, há uma rejeição no eleitorado a nomes eleitos em 2018 e que se mostraram como ‘renovação’. Governadores afastados, por exemplo (Wilson Witzel, do Rio de Janeiro; e Carlos Moisés, de Santa Catarina). Há ainda uma demanda por renovação, o problema é achar espaço sem o efeito da onda que foi 2016 e 2018.”

Para o cientista político Rodrigo Prando, da Universidade Mackenzie, a pandemia afetou esta mudança de tendência no comportamento do eleitorado. “Em todo o Brasil, o cidadão optou dessa vez por ficar nos candidatos conhecidos e que demonstraram experiência. Com a pandemia, as pessoas exigem o conhecimento necessário para tratar deste problema. Por isso, é um voto menos propenso a experimentações e novidades.”

Prefeito eleito em Ascurra (SC), Arão Josino (PSD), associado a Agora, Raps e Renova, acredita que a mudança no comportamento de eleitor entre 2018 e 2020 tem a ver ainda com uma expectativa por mais qualidade na política. “Em 2018, queriam a mudança por si só, alguém diferente. Agora, as pessoas buscaram uma renovação com preparo e de preferência com experiência. Num momento como este, a população fica insegura e busca experiência”, disse o prefeito eleito, que tem 28 anos.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.