Em: Esportes No dia: 13 de julho de 2020
No Rio de Janeiro, já é possível jogar golfe em um dos melhores campos do mundo junto a jacarés e capivaras. Com “sorte”, próximo a uma jiboia de cerca de dois metros. E sob os olhares atentos de corujas, pica-paus e quero-queros, muitos quero-queros. Inaugurado em novembro de 2015, o Campo Olímpico de Golfe, na Barra da Tijuca, foi construído para os Jogos do Rio-2016 debaixo de muitos protestos e ações na Justiça.
“Levei muita ovada”, recordou o presidente do campo olímpico, Carlos Favoreto, citando manifestantes que chegaram a acampar por três meses próximo à área. “O Ministério Público recorre até hoje, mas um perito já esteve três vezes aqui a pedido da Justiça e em todas elas ele concluiu que o lugar está melhor”.
A principal polêmica envolve o fato de o campo de golfe, que fica em um espaço de mais de um milhão de metros quadrados, ocupar Área de Proteção Ambiental (APA). A questão é que, antes de abrigar o campo, boa parte do terreno estava degradado, com enormes faixas de areia. O lugar servia até mesmo como depósito de lixo e entulho. E os animais que habitavam o campo eram alvo fácil de caçadores irregulares.
Uma das árvores que dá maior orgulho aos responsáveis pelo local, contudo, está lá há décadas. Trata-se de uma figueira imponente que seria derrubada por estar bem no traçado do campo desenhado pelo arquiteto americano Gilbert Hanse. Tinha de cair. “Mas decidimos deixar a árvore lá e desviar o traçado”, contou Favoreto.
Para recuperar a área, milhares de espécies de árvores e arbustos nativos foram plantadas. O gramado, por sua vez, foi importado do Texas, Estados Unidos. Tolerante à seca, consome até 40% menos água. Segundo os responsáveis pelo campo, hoje a região apresenta um aumento de 167% da cobertura vegetal em comparação ao período anterior à Olimpíada.
Com o crescimento das plantas, aos poucos os animais silvestres foram retomando o espaço que lhe é natural. Há 290 espécies catalogadas, ante 118 no início da recuperação da área. Atualmente, é possível se deparar com dezenas de jacarés e capivaras. Uma jiboia e uma preguiça já foram flagradas circulando tranquilamente pelos buracos. Casais de corujas e seus filhotes, volta e meia, saem de suas tocas, que ficam próximas a alguns dos 18 buracos que compõem o campo. E um sem-número de borboletas costuma colorir o fim de tarde – inclusive a rara borboleta-da-praia.
Nenhum deles precisa de algum tipo de tratamento específico. “Os animais silvestres do Campo Olímpico de Golfe do Rio não são alimentados por tratadores nem por frequentadores, pois realizamos um trabalho de educação ambiental no local”, explicou a bióloga Luciana Andrade, responsável pelo monitoramento da fauna e da flora do campo. “O ambiente do terreno se encontra em equilíbrio ambiental de tal forma que proporciona a esses animais alimento e abrigo”.
Há poucos dias, um cachorro-do-mato foi visto circulando na área, engrossando a lista de bichos que eventualmente podem tirar a concentração de golfistas pouco afeitos a espécies de dentes afiados. Luciana, contudo, assegura que não há risco aos jogadores. Caso haja algum incidente, uma equipe multidisciplinar estará de prontidão para socorrer quem quer que precise de ajuda.