Max Dias
Historiador, jornalista, professor do IFES Campus Linhares e Doutor em História

Eu vejo o futuro repetir o passado


Publicado por: Max Dias Em: Colunistas No dia: 18 de julho de 2022


A conclusão da Polícia Civil de que o assassinato do tesoureiro do PT de Foz do Iguaçu (PR) não se tratou de um crime político é uma lástima. E pior: traz à tona uma realidade em torno das forças de segurança e sua afiliação ao bolsonarismo que atemoriza cada democrata desse país. A batalha até outubro tende a ganhar contornos de guerra literal e não apenas a boa e velha política enquanto simulacro.

Jair Bolsonaro é o maior beneficiário dessa violência política. Joga a favor dele dois fatores. O primeiro é dentro do jogo da própria democracia, já que o medo torna os seus adversários, desarmados, mais suscetíveis a baixar a guarda e não encarar as afrontas cotidianas. Nesse caso, só o bolsonarismo tende a ganhar as ruas com o início definitivo da campanha. A cada tiro disparado e a cada bomba lançada em comícios lulistas, mais pessoas afeitas ao ex-presidente tendem a se cercar em casa de toda segurança possível, abrindo mão desse valor inestimável que é a liberdade de expressão em pleno período eleitoral.

Caso a oposição a Jair Bolsonaro siga resistindo, poderemos ver escalar essa violência em termos jamais vistos, levando o atual presidente a agir tal qual ele sempre sonhou. Talvez seja isso o que ele espera, em definitivo. Porque, seguindo o raciocínio das pesquisas, sua posição desconfortável para a corrida de outubro o deixaria em uma situação limite. Entre burlar o TSE e refutar as urnas, Jair Bolsonaro ficaria com uma terceira opção: fechar o sistema político sob o discurso de proteção da República. A violência fortalece a tropa bolsonarista e empareda os demais poderes republicanos. Xeque-mate.

Se não há motivo maior que esse para a completa unidade dos democratas deste país, pode ter certeza, não terá outro. Estamos assistindo um velho filme passar em nossas vistas, repetindo a história do Brasil em diversos episódios. Só que as nuances saltam aos olhos. A confiança de determinados grupos políticos, sociais e empresariais nas instituições do Brasil não será suficiente. Quando o cenário se encerrar em mortes pelas ruas do país, o Congresso Nacional será o primeiro, infelizmente, a dar salvo-conduto ao aprendiz de tirano que senta na cadeira presidencial e o STF deverá assistir o seu ocaso pelas mãos de um cabo e um soldado.




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