Em reunião com a embaixada brasileira em Pequim, executivo da SinoVac cobrou fim de ataques à China para não atrasar insumos

Laboratório da Sinovac Biotech, na China Foto: NICOLAS ASFOURI / AFP

Publicado por: Agencia de Notícias Em: Saúde No dia: 9 de junho de 2021


Quinze dias após o presidente Jair Bolsonaro fazer novos ataques à China, em maio deste ano, a farmacêutica SinoVac cobrou uma mudança de posicionamento do governo para garantir o envio de insumos ao Instituto Butantan para a produção da vacina CoronaVac. A informação consta em documento sigiloso do Itamaraty enviado à CPI da Covid e obtido pelo GLOBO. O ofício reproduz uma carta enviada pela Embaixada do Brasil em Pequim ao Ministério das Relações Exteriores (MRE) com o relato de uma reunião ocorrida em 19 de maio na capital chinesa entre diplomatas e representantes brasileiros com o presidente da SinoVac, Weidong Yan.

O executivo, segundo o relato oficial, pediu uma mudança no posicionamento político do Brasil para que houvesse uma relação “mais fluida” entre os países e “fez questão de ressaltar a importância do apoio político para a realização das exportações, e mesmo a possibilidade de tratamento preferencial a determinados países”.

Na avaliação de integrantes da CPI da Covid, o material desmonta a tese defendida em depoimento à comissão por ministros como o titular da Saúde, Marcelo Queiroga, e o ex-chanceler Ernesto Araújo, de que as falas do presidente da República não tiveram impacto nas negociações com o país asiático para o fornecimento de imunizantes.

De acordo com o relato da embaixada brasileira, o presidente da SinoVac “disse ainda que, apesar do bom relacionamento da empresa com o Instituto Butantan e do apoio da Chancelaria à cooperação com o Brasil, poderia ser útil que o acordo entre as empresas fosse visto como uma demanda do governo brasileiro”.

O executivo chinês, ainda segundo o documento enviado ao Itamaraty, sugeriu que o Brasil enviasse uma correspondência, “no nível político”, para expressar a expectativa sobre a quantidade de insumos e o cronograma de suprimento de vacinas.

De acordo com o documento, o encontro ocorreu na sede da SinoVac, em Pequim, e contou com a presença de outros diplomatas brasileiros e um representante do governo de São Paulo em Xangai. “O propósito da reunião foi tratar do processo de suprimento das vacinas contra a COVID-19 contratadas pelo Instituto Butantan”, diz o documento.

No início da reunião, segundo o relato enviado ao Itamaraty, representantes brasileiros comentaram que havia frustração do governo Bolsonaro e do Instituto Butantan com a notícia de que seriam enviados apenas 3 mil litros de insumos ao Brasil naquele mês, e não 4 mil, conforme previsto.

Questão de diplomacia

Em certo momento da reunião, de acordo com relato da embaixada de Pequim, o presidente da SinoVac citou como exemplo a Indonésia e o Chile como “reflexo positivo das boas relações” com a China. Dos 12,7 milhões de doses administradas no Chile contra a Covid-19, 90% são do laboratório chinês Sinovac.

“(O presidente da SinoVac) não chegou a afirmar categoricamente que haveria uma ingerência direta do governo na alocação de insumos, mas realçou a importância de um bom diálogo entre Brasília e Pequim. Afirmou que a questão não é meramente comercial, mas também diplomática. Citou, como exemplo, o reflexo positivo das boas relações que a Indonésia e o Chile mantêm com a China sobre o suprimento de vacinas para aqueles países”, diz o relato enviado ao Itamaraty.
Segundo fontes do governo de São Paulo que participaram das conversas, o embaixador do Brasil na China, Paulo Estivallet, esteve na reunião com a SinoVac e se comprometeu a levar adiante no Itamaraty a informação de que a empresa havia se queixado da postura do governo federal em relação à China.