Em: Internacional No dia: 16 de setembro de 2020
Ex-líderes da antiga guerrilha Forças Revolucionárias da Colômbia (Farc), que se tornou um partido político, pediram em carta “perdão público” às centenas de vítimas de sequestro e a seus parentes. A mensagem é uma das mais contundentes do grupo, que empreendeu uma luta contra o governo por mais de cinco décadas, financiando suas ações com dinheiro obtido pelo tráfico de drogas e pelo pagamento dos resgates das pessoas sequestradas.
“O sequestro foi um erro gravíssimo que só podemos lamentar”, declarou em comunicado a liderança do partido Força Alternativa Revolucionária do Comum, que manteve a mesma sigla da guerrilha, que firmou um acordo de paz com o governo em 2016.
O documento, assinado por oito ex-líderes, incluindo Rodrigo Londoño, seu último chefe, acrescenta que “depois de ter silenciado para sempre nossos rifles e na quietude da vida civil, que nos permitiu uma reflexão profunda sobre a guerra da qual participamos e fomos protagonistas por mais de 50 anos, queremos dizer que o sequestro foi um erro muito grave”.
Os membros da ex-guerrilha reconheceram que os sequestros deixaram “uma ferida profunda na alma das vítimas e atingiram, mortalmente, a nossa legitimidade e a nossa credibilidade”. Na mensagem, o grupo cita o caso de Andrés Felipe Pérez, de 12 anos, que morreu vítima de câncer, em 2001, enquanto seu pai, cabo da polícia, estava em poder dos rebeldes, que ignoraram os pedidos para que ele fosse libertado. O homem foi morto em uma suposta tentativa de fuga do cativeiro.
“Sentimos como um punhal em nossos corações a vergonha por não ter ouvido o clamor de Andrés Felipe Pérez, que morreu esperando para estar com seu pai. Não podemos voltar no tempo para evitar a dor e as humilhações que causamos a todos os sequestrados.”
Julgamento
A Jurisdição Especial para a Paz (JEP), encarregada de julgar os crimes cometidos durante o conflito armado na Colômbia, instaurou em 2018 o que foi chamado de “caso 01”, um inquérito que investiga os sequestros cometidos pelos ex-guerrilheiros. Como parte desse processo, os líderes das Farc apresentaram, no ano passado, uma “versão escrita coletiva” dos crimes que cometeram.
A JEP estima que 20 mil sequestros foram cometidos pelos rebeldes, incluindo de militares e políticos. Durante o inquérito, a Procuradoria-Geral da República da Colômbia divulgou um relatório em que apontava que 522 pessoas morreram em cativeiros mantidos pelos guerrilheiros das Farc.
A violência na Colômbia recuou depois que a guerrilha entregou as armas, mas nem todos os guerrilheiros aderiram ao acordo. Hoje há grupos armados mantidos pelo tráfico de drogas que promovem massacres em áreas antes dominadas pelas Farc. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.