Publicado por: Redação Em: Editorial No dia: 27 de agosto de 2021
Fevereiro de 2020. O início da pandemia no Brasil. Foi nesse mês, há um ano e meio, que nosso país confirmou o primeiro caso de pessoa infectada pelo coronavírus. De lá pra cá, muita coisa aconteceu. A guerra contra o vírus enfrentou o seu pior inimigo: a desinformação. Ou melhor, as informações falsas. Não faltou teoria da conspiração para justificar o injustificável. Gente morrendo. Cemitérios lotados. Funerárias sem condições de atender. Um cenário jamais visto. E, ainda assim, houve – e ainda há – quem desacreditou na doença.
Uma pandemia mundial requer esforço coletivo internacional. No entanto, alguns líderes políticos decidiram brincar com as vidas em jogo, como se estivessem em um cassino, apostando tudo, sem ter nenhuma carta na manga. Nessa batalha insana entre “estar certo” versus “o que a ciência aponta”, faltaram caixões e sobraram covas para fechar.
O líder de uma nação é quem determina o que será ou não feito diante desse quadro trágico. Na inoperância dele, muitos tentam se virar, com medo de que o pior aconteça. É como ensina o ditado popular: cachorro que tem dois donos morre de fome.
É nesse panorama que governadores e prefeitos começaram a se movimentar para conseguir atender os milhões de doentes que apareciam diariamente em busca de atendimento médico nas centenas de milhares de Unidades de Pronto Atendimento do SUS espalhadas Brasil afora.
O Governo Federal, por sua vez, decidiu fazer tudo ao contrário, e quando começaram a contar doentes e mortos, o Ministério da Saúde decidiu ocultar os números. A imprensa, por sua vez, se juntou em um consórcio, deixando de lado a concorrência, para tentar levar para a população as estatísticas alarmantes, com o objetivo único de fazer com que o povo entendesse a necessidade de tomar os cuidados e adotar as medidas necessárias para não pegar coronavírus.
Governadores e prefeitos, então, decidiram divulgar diariamente o tal Boletim Epidemiológico. Todos os dias, nos cinco mil, quinhentos e sessenta e oito municípios e os vinte e sete entes federados, era possível saber quantas pessoas contraíram a doença, quantos estavam internados na enfermaria, quantos na UTI, quantos morreram de um dia para o outro, enfim, a realidade que, com o passar do tempo, parou também de comover e chocar a população.
Na ausência de uma política verticalizada, profissionais da saúde muitas das vezes ficaram sem saber o que fazer. Virou um deus-nos-acuda, uma bagunça danada, porque o Governo Federal lavou as mãos e deixou que cada um se virasse como desse. E para quem morreu, o presidente deixou um recado: não é coveiro, portanto, nada que pudesse fazer.
Foi aí que governadores e prefeitos erraram. Deveriam ter deixado a cargo do Ministério da Saúde a responsabilidade sobre a transparência dos números. Aliás, importante lembrar: a única doença que tem número de curados divulgados é o coronavírus. A gente não tem isso com câncer ou qualquer outra. Efeito da conduta desvairada do presidente.
Governadores e prefeitos foram impedidos de negociar a compra de respiradores, inicialmente, e, depois, de vacina. Logo, deveriam ter deixado a responsabilidade das estatísticas também com o governo federal. Número de infectados, curados, mortos, internados e, agora, vacinados. Será que o presidente tem isso na ponta da língua? Ele nem vacina tomou!
A covardia do líder maior da nação fez com que governadores e prefeitos assumissem uma responsabilidade que não deveria ser deles. A pandemia ainda não acabou. Os efeitos dela serão sentidos por anos. Enquanto isso, o presidente pensa no seu próximo ato de campanha. E leva com ele uma multidão. Onde isso tudo vai parar ninguém sabe e nem se arrisca a dizer.