Max Dias
Historiador, jornalista, professor do IFES Campus Linhares e Doutor em História

Da União (Democrática) Nacional a União Brasil


Publicado por: Max Dias Em: Política No dia: 8 de outubro de 2021


Uma das notícias que mais repercutiram no meio político dessa semana foi a fusão do PSL com o DEM, tornando a “União Brasil” o maior partido da Câmara Federal. Objetivamente, ter um maior número de deputados pressupõe mais recursos do Fundo Partidário e isso, na prática, garante maior poder de barganha para as próximas eleições.

Segundo Luciano Bivar (ex-PSL e novo presidente da sigla) a agremiação terá candidato à presidente em 2022. Todavia, o mandatário tem se esquivado de enquadrar os muitíssimos membros do seu partido que compõem a base bolsonarista mais fiel. Sua tarefa, segundo o próprio, é conseguir unidade em torno de um novo projeto para o Brasil. Não duvidem se esse projeto passar pela repetição do apoio a Jair Bolsonaro, por fim.

De fato, unidade de ocasião e projeto para o Brasil estão entre aquelas falácias históricas que sempre circulam pelos noticiários políticos em véspera de eleição ou quando se abre uma janela de oportunidades. É o caso da União Brasil. Por mais que os partidos mudem de nome, os seus membros têm uma ficha corrida que não nos deixa esquecer a origem. Peguemos o caso do agora extinto DEM.

A sigla, que faz referência a Democratas, foi rebatizada em 2007 a fim de retirar a marca negativa que vinha acompanhando o partido após quase uma década ocupando a vice-presidência do Brasil, numa sociedade com o PSDB de Fernando Henrique Cardoso. Antes, o DEM era conhecido como Partido da Frente Liberal (PFL). Seu ressurgimento remonta o período da redemocratização em 1985. Digo ressurgimento porque, anteriormente, na ditadura militar, seus membros foram os principais sócios da agremiação criada pelas Forças Armadas para servir como esteio governista. Na Aliança Renovadora Nacional (Arena) e, após 1979, no Partido Democrático Social (PDS) estiveram os principais agentes civis que coadunavam com a tirania.

Na década de 1940 esses mesmos personagens circulavam pelos corredores do Congresso enquanto udenistas. A União Democrática Nacional (UDN) se baseava em ideias muito em voga atualmente: conservadorismo político e liberalismo econômico. No cotidiano da política seus membros buscavam, após cada eleição presidencial, encontrar maneiras de sabotar os governos eleitos democraticamente. Não por acaso, de conspiração em conspiração, foram os sócios majoritários da ditadura que se estabeleceu a partir de 1964.

Mudam-se os nomes, mantém-se as práticas. A sopa de letrinhas que vai da UDN, Arena, PDS, PFL, DEM (passando pelas divisões internas que originaram PP, PSD) tem mais de repetição histórica que de novidade política e União (Democrática) Nacional e uma União Brasil, após quase 80 anos, não nos deixar mentir.




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