Basilio Machado
Professor e Jornalista

Da reforma política aos diabos


Publicado por: Basilio Machado Em: Colunistas No dia: 13 de agosto de 2020


Início de agosto, o ambiente político começa se agitar. Os candidatos, depois do vai e vem na data das eleições, estão afinando a viola. Partidos se veem apertados para definir as coligações majoritárias, num cenário onde mais de 30 legendas buscam lugar à sombra de algum candidato. De preferência, que tenha dinheiro, para dar uma mãozinha no convencimento do eleitorado. Coisa de maluco.

Têm aqueles, mais afoitos, que queimaram a largada. É o caso do ex-secretário de Saúde de Itapemirim, o Julinho (Cidadania), multado em 7 mil reais por propaganda antecipada. Outros estão com denúncias sendo analisadas pelo TRE. Essa confusão nas datas pandêmicas ainda vai dar dor de cabeça em muita gente. O fato chama atenção também para a esquizofrenia da legislação eleitoral do país. Temos um cadáver que fede, mas nossos congressistas não têm narinas.

Pela lógica democrática, quanto mais o eleitor souber dos candidatos, melhor a qualidade do voto. Quanto antes ele souber quem vai concorrer, mais tempo terá para analisá-los, procurá-los à luz do dia ou repudiá-los. Essa história de “pré-candidato” é uma balela semântica. Ora, a partir do momento que alguém se propõe a exercer uma função pública de mandato, é candidato. Quando disputa a convenção partidária, é candidato. Se perder, deixa de ser. É simples, complicar pra quê?

Essas gaiatices da legislação só prestam pra entupir os tribunais, embaralhar o processo eleitoral e beneficiar o poder econômico. Quem tem dinheiro, pode entrar na disputa. Quem não tem, que pule fora enquanto há tempo. Eleição pra candidato pobre é impraticável. O sistema é seletivo na origem. Pobre só entra se for bancado, se receber uma “ajudinha por fora”. Até porque, se errar, pode ser preso ou ficar devendo as cuecas depois do pleito.

A eleição no país é muito dispendiosa. Manter partido político custa caro, além de ser tarefa extremamente burocrática. As normatizações estão sempre mudando, tem que pagar contador, advogado, marqueteiro, influenciador digital, etc. Se perder prazo, toma multa. Se errar nas contas, mais multas. Se mijar fora do penico, perde o pinto, ops!, quer dizer, pode até ser preso. Cercaram de tudo que é jeito, ainda assim, tá tudo errado.

Outro dia um candidato me pediu orientação com seus conteúdos nas redes. Ficamos assim: acho que essa palavra pode, essa não pode, tem que dizer assim ou assado, isso é subjetivo, isso induz, então não pode, é objetivo demais… Aos diabos! A legislação empurra para a insegurança, e essa para a marginalidade. Se descomplicassem, a lei seria mais eficiente e menos seletiva.

Hoje o candidato é quase que obrigado a fazer reunião às escuras, senão, pode ser filmado e punido. Parece regime de exceção. Discursar em churrasco, expor suas ideias, nem por reza braba. Pode dar mais dor de cabeça que pinga do Garrafão. O sujeito tem que manter a candidatura em silêncio por quase quatro anos. Tem apenas um ou dois meses para expor suas ideias e pedir voto.

E a reforma política? Vai lá e pergunta pro seu deputado, pro seu senador. Eles vão dizer, como sempre, que ficou pra próxima. Até!