Carnaval: privatizaram a festa mais popular do Brasil?


Publicado por: Redação Em: Cultura No dia: 27 de fevereiro de 2022


A pandemia parece ter afetado também a festa mais popular do Brasil: o carnaval. Sob o pretexto de conter o avanço do coronavírus, a justiça tem apertado o Poder Público, no sentido de proibir a realização de eventos, seja de qualquer formato e tamanho, durante o feriado mais querido do povo brasileiro. No entanto, a mesma justiça permite que empresas realizem festas particulares com casas lotadas, aglomerações enormes, sem qualquer tipo de fiscalização.

No Espírito Santo, todos os finais de semana do mês de janeiro aconteciam grandes eventos, em algumas das casas de shows espalhadas pelo litoral capixaba. Situação benéfica para a indústria do entretenimento, que ficou quase dois anos sem qualquer atividade. E os eventos lotados confirmam: o povo não está tão preocupado assim com a COVID-19.

O carnaval chegou e, com ele, novamente, o debate sobre a realização ou não de festas e shows. Esse debate, no entanto, se limitou as ações do Poder Público. As prefeituras foram orientadas a não realizar qualquer tipo de folia que promovesse aglomeração. A maioria acatou essas recomendações. Enquanto isso, bailes particulares pipocando em tudo quanto é canto, sem qualquer questionamento do Judiciário e do Ministério Público.

Não dá para entender os motivos que levam a essa dicotomia: Poder Público não pode realizar nada durante o carnaval; empresas particulares estão liberadas e lucrando muito, por conta da ausência de eventos gratuitos.

Nessa confusão de pode ou não pode, quem sai perdendo, como sempre, é o povo. No Brasil, agora, não há mais bloco na rua. Eles estão muito bem colocados em espaços exclusivistas, onde o dinheiro determina quem vai ou não curtir o carnaval.

A folia está diferente esse ano e não é só por conta da pandemia. O capital parece ter conseguido tirar das mãos do povo a festa que é sua. Ou melhor, era. O coronavírus, nesse caso, é só um detalhe. O problema não é a elite realizar suas festinhas em ambientes onde a fiscalização nem ousa chegar. A questão é tirar das prefeituras a possibilidade de entregar gratuitamente ao povo essa manifestação popular cultural que é a cara do país e que, todos sabem, atrasa até o início efetivo do ano.

Resta saber se isso irá se manter ou não nos próximos anos. Grande parte da população já está vacinada. A população já entendeu que vai ter que conviver com essa doença. Mas, assim como estão fazendo com futebol, parece que querem elitizar o carnaval.

O samba enredo que ganha nota 10 na avenida nesse carnaval é, sem dúvida, a demagogia.




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