Max Dias
Historiador, jornalista, professor do IFES Campus Linhares e Doutor em História

A divina comédia humana


Publicado por: Max Dias Em: Colunistas No dia: 30 de setembro de 2022


Avaliações sobre debates eleitorais, no geral, são carregadas de passionalismo. Então não vale muito a pena gastar tempo nesse instante para dizer quem ganhou ou perdeu. Essa tarefa exercida por alguns dos analistas políticos têm seu espaço reservado na imprensa, mas não garante que os efeitos do debate reverberem sobre as urnas. Então, não esperem tantas novidades para a apuração de domingo. Lula tende a manter a ponta e Bolsonaro permanecerá em segundo, como mostram as pesquisas. Resta saber de quanto será a diferença entre eles e se haverá segundo turno. Isso nenhum articulista ousa cravar.

Voltando ao debate, fica muito claro que o seu formato está desgastado. Talvez por isso o encontro de ontem, na TV Globo, tenha guardado muitíssimos momentos cômicos e só. A audiência foi um sucesso e, certamente, garantiu ao canal da família Marinho muitas inserções de publicidade. Quer dizer, o debate eleitoral ainda é um negócio bastante rentável. Mas e do ponto de vista político, o que o debate traz de positivo?

Na prática, essa disputa na TV parece trazer consigo uma réplica do que está ocorrendo cotidianamente nos grupos de whatsapp e páginas de redes sociais pelo Brasil. Falas desconexas, acusações aleatórias e memes (muitos memes). Assistir ao debate se tornou mais um entretenimento televisivo, por fim. Porém a função deveria ser ampliar a capacidade de análise do público em favor de um projeto de país.

Faltou o projeto de país, sobraram as mesmas divagações de sempre. Aí fica a dúvida: pra que serve, atualmente, um debate? Parece-nos mais um UFC do discurso, simulando a versão original: aquela com muita porrada para as pessoas se deliciarem com a desumanização do ringue. A política enquanto simulação da arena de guerra só não esteve tão presente no discurso daqueles candidatos sem chance de eleição em 2022. Ressalvado o padre Kelmon que, apesar de não ter qualquer chance, estava desempenhando um claro papel de linha auxiliar do presidente Bolsonaro.

Estamos a poucos dias de uma das eleições mais angustiante das últimas décadas e o espetáculo que nos foi apresentado pela televisão resume bem o tempo em que vivemos. Na TV, o absurdo passivo socioeconômico (cuja principal face é a fome) quase não compareceu. Sobraram soluções mágicas ou aquelas que só servem para descarte imediato. Resta-nos rirmos, como em boa parte do debate de ontem, tendo a certeza que nessa divina comédia humana nada é eterno. Felizmente.




RELACIONADOS