Max Dias
Historiador, jornalista, professor do IFES Campus Linhares e Doutor em História

A discórdia da vacina


Publicado por: Max Dias Em: Colunistas No dia: 16 de junho de 2021


Nem mesmo a saída do agora ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles (em meio a denúncias de corrupção envolvendo contrabando de madeira) foi capaz de arrefecer o noticiário em favor do governo Bolsonaro. O caso da suposta compra superfaturada das vacinas Covaxin incendiou ainda mais o trabalho da CPI da Covid para a semana que vem e, assim, o governo precisou acionar toda a sua tropa de choque, dentre parlamentares e blogueiros, para reafirmar o tal compromisso anticorrupção (mesmo que o cotidiano apresente sempre argumentos contrários a esse).

A tarefa do governo torna-se cada vez mais inglória tendo que explicar os detalhes que levaram a uma compra em detrimento de outra. Como se sabe, a gestão Bolsonaro negou 53 e-mails do laboratório Pfizer para compra de suas vacinas. Todavia, a vacina da Covaxin foi adquirida pelo valor total de R$ 1,6 bilhão, a um custo de 15 dólares por dose, preço bem acima do previsto pelo laboratório responsável pelo imunizante. A empresa indiana Bharat Biotech previra um valor inicial de 1,34 dólares a unidade. Soma-se a isso o fato do chefe da divisão de importação do Ministério da Saúde, Luís Ricardo Miranda, ter dito que recebeu forte pressão para a compra desse imunizante específico e você tem um caldo e tanto para espremer nas próximas agendas da CPI.

Entretanto, é preciso refletir o quanto essas denúncias têm lançado o governo para as cordas. No Congresso Nacional, só nessa semana, avançaram pautas bastante esperadas por Bolsonaro e Paulo Guedes, dentre elas a privatização da Eletrobras. Na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara (CCJ) o texto-base que define a demarcação de terras indígenas também foi aprovado, mesmo com a esplanada dos Ministérios ocupada pelos povos originários, lutando contra forças policiais para que mais essa insanidade não ganhe corpo. Quer dizer, diferentemente do início do governo Bolsonaro, em 2018, onde havia dificuldade para articular a base no legislativo, parece que agora (com os devidos cargos cedidos aos exigentes parlamentares) a maioria no Congresso está bem afinada com os projetos vindos do Planalto.

Assim, apesar das insatisfações demonstradas nas ruas no 19/06, há dúvidas quanto a um avanço do impedimento do atual presidente, por mais que as cartas do jogo estejam todas bem evidentes na mesa. A maré pode mudar, ao sabor das contingências e investigações, no entanto, acreditar que Bolsonaro seguirá na cadeira presidencial até 2022 não é uma alucinação e, com cerca de 20% do eleitorado satisfeito com essa gestão, é prudente acreditar que Bolsonaro já está no segundo turno.