Max Dias
Historiador, jornalista, professor do IFES Campus Linhares e Doutor em História

A crise de identidade tucana


Publicado por: Max Dias Em: Política No dia: 19 de novembro de 2021


Começo esse texto tentando responder para mim mesmo se o PSDB ainda é um partido que exerce protagonismo na República brasileira, mas para chegar a qualquer conclusão desse tipo é necessário pensar a agremiação sob o crivo da sua história recente. O PSDB nasce a partir do PMDB, tão logo o país engatinha em sua redemocratização, em 1988. Lideranças como Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas, Franco Montoro e José Serra buscaram inspiração na Europa para levar adiante um projeto que unisse o que havia de mais “moderno” para a gestão pública de então: ortodoxia econômica e políticas sociais.

A experiência de governo com as duas gestões de FHC e as próprias transformações porque passaram as sociais democracias europeias tornaram o PSDB uma agremiação refém do seu legado. Acusados de privatistas e elitistas, os “tucanos” foram perdendo uma eleição nacional após outra para o PT, que, por fim, foi quem assimilou um programa mais próximo do que se pode entender por social democrata.

Órfão, o PSDB virou um partido regional, com personagens fortes em destacadas praças do país (como São Paulo e Minas Gerais), no entanto, tão longe de tudo o que é Brasil e seus grotões. O imã da política acabou por repelir os tucanos para um espectro onde seu discurso é igual ao dos demais e, por mais que se renovem as caras, tanto João Dória quanto Eduardo Leite seguem sendo a expressão perfeita de um partido que envelheceu.

Não por acaso, após serem pivôs da derrubada da Dilma e fiadores do governo Temer, os tucanos chegaram a 2018 na expectativa de colherem tantos louros quanto colheram em 2016, nas eleições municipais. Entretanto a urna lhes deu uma banana. O então candidato Geraldo Alckmin, que agora está com um pé fora do ninho tucano, terminou com menos de 5% dos votos. O mesmo Alckmin que agora está participando das prévias do PSDB para influir na futura composição da disputa estadual de 2022 sob a gritaria do seu algoz, João Dória. Para quem não se lembra, em 2018 Dória foi aliado de primeira hora de Jair Bolsonaro.

Rachado e sem qualquer projeto capaz de dialogar com amplas parcelas da sociedade brasileira, o PSDB já não exerce mais protagonismo na política. Seu eleitorado, em grande medida, foi capturado pelo bolsonarismo. Hoje, os tucanos são apenas uma sombra do único partido a vencer eleições nacionais em primeiro turno e se não fossem os jornalões paulistas talvez nem saberíamos de sua existência.




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