Max Dias
Historiador, jornalista, professor do IFES Campus Linhares e Doutor em História

A campanha pelas “Diretas Já” e o prêmio de consolação

O cenário econômico turbulento e os seus efeitos sociais levaram à campanha pelas “Diretas Já”

Publicado por: Max Dias Em: Política No dia: 16 de junho de 2020


No momento em que o povo brasileiro retorna às ruas, para mais uma vez expurgar um presidente da República, algumas dúvidas surgem na cabeça de quem acompanha a política de perto olhando para longe. Principalmente quando dizem que a única forma de preservar a nossa democracia é por meio do entendimento, da formação de uma frente política ampla que esqueça o passado e celebre o futuro.

Talvez você não se recorde porque não era nascido ou tinha tão pouco tempo de vida quanto este que vos escreve, mas a primeira metade da década de 1980 foi uma ocasião crucial para a nação que rumava para o século XXI. Ali os nossos piores pesadelos ganharam formas econômicas como estagnação, inflação, desemprego, endividamento, moratória; e o receituário liberal, predominante na grande mídia, já prescrevia o velho enxugamento da máquina pública. Apesar da memória curta de quase todos neste país dos mitos, a ditadura militar saiu de cena em 1985 entregando um país pior do que pegou em 1964, após um golpe.

As manifestações reuniram milhares de pessoas nas grandes metrópoles brasileiras. Vestidos de amarelo artistas, futebolistas, operários e empresários exalavam um clima de euforia nos comícios. Clamavam pelo direito de votar para presidente, na contramão do que previa a legislação à época. A esperança gritava nas ruas, mas o Congresso governista não tinha ouvidos. A emenda Dante de Oliveira foi rejeitada para o desespero daqueles que lançaram toda a sua sorte nessa carta. Não foi o caso do PMDB, principalmente o chamado “setor moderado” do partido.

Tendo apostado que a emenda seria derrotada, esses peemedebistas se articularam com segmentos empresariais e políticos insatisfeitos com os rumos do país e orientaram seus esforços na construção de uma candidatura de conciliação para o Colégio Eleitoral. O nome de José Sarney, ex-liderança do PDS, partido do general Figueiredo, se somou ao do peemedebista Tancredo Neves na vitoriosa “Aliança Democrática”.

Quem por décadas defendeu os desmandos da ditadura desembarcou dela no apagar das luzes e posou triunfante como democrata sob o holofote dos jornais. A nação que exigiu a volta da democracia por meio de um gesto, um voto direto para presidente, assistiu bestializada, novamente, o grande acordo nacional cujo clímax foi o choro pela morte do presidente que ela não elegeu e o consolo foi o fim da ditadura que ela não derrubou. Para quem acha que a história ensina está aí o ano de 2020 como dever de casa.