Max Dias
Historiador, jornalista, professor do IFES Campus Linhares e Doutor em História

A bicada da ema e o canto de azar


Publicado por: Max Dias Em: Colunistas No dia: 27 de julho de 2020


Foi Jackson do Pandeiro quem eternizou o papel da ema na música popular brasileira em versos como “você bem sabe que a ema quando canta vem trazendo no seu canto um bocado de azar”. Porém, foi homenageando o paraibano em Jack Soul Brasileiro que Lenine explicitou bem a múltipla contribuição do artista de Alagoa Grande para o cancioneiro nacional: “quem fez a ema gemer na boa”?

Na semana passada a ema foi protagonista novamente, agora atacando o presidente. Se quando ela canta o azar vem junto imagine quando ela bica?! Considerando que o azar não é retrospectivo, mas começa no bico da ema, tal qual um oráculo, é melhor a gente se preparar. O que é ruim vai ficar pior.

Em pouco mais de um ano e meio de gestão, Jair Bolsonaro deu provas de sua incapacidade para comandar a República. Faz-se valer de um ralo patriotismo e rebaixadas teorias da conspiração para seguir alimentando o seu eleitorado. Se a ema não suporta comer na mão do presidente tem uma manada por aí disposta a isso e essa confiança do capitão na sua militância estende o azar nacional até 2022, no mínimo.

O temor de muitos setores reunidos na oposição ao governo está no cenário de insolvência econômica após a pandemia. A lentidão para resolver os repasses financeiros aos municípios e estados, a inaptidão para gerir uma política pública como a do auxílio emergencial, a intransigência para liberar os empréstimos aos pequenos e médios negócios (setores que mais empregam) fará desse país uma terra arrasada para 2021-2022.

Todavia, se por um lado muitos articulistas acreditam que as eleições municipais desse ano servem como uma primeira avaliação das urnas à gestão presidencial do desgastado Jair Bolsonaro, por outro, há que se considerar a corrosão da imagem dos muitos políticos de carreira da oposição que não geram ânimo no eleitorado e vão, novamente, colocar seu nome para a disputa. Para o nosso revés enquanto povo, alimentados pelas mãos bolsonaristas que escrevem posts moralistas em redes sociais, o debate tende a ser mais raso que um soldado em início de carreira, mais esvaziado que um congresso científico sobre terraplanismo.

No fundo, independente de uma derrota nas urnas agora, o presidente acredita que a eleição que se segue a essa de 2020 vai traçar o mesmo itinerário que a de 2018; crê que o antipetismo servirá enquanto combustível ideal para a sua reeleição. Talvez faça sentido… o “país do swing é o país da contradição” mesmo. Mas diz aí Queiroz:

“- Foste?

– Fui!

– Compraste?

– Comprei!

– Pagaste?

– Paguei!

– Me diz quanto foi?

– Foi 2 milhões de reais”.




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