Max Dias
Historiador, jornalista, professor do IFES Campus Linhares e Doutor em História

Uma resposta ao terror de Brasília


Publicado por: Max Dias Em: Colunistas No dia: 12 de dezembro de 2022


 

O que assistimos na noite de ontem em Brasília está longe de ser um fato isolado desde o fim da corrida presidencial de 2022. Na verdade, a normalização dos ataques à democracia sob o véu da “liberdade de expressão” tem servido para civis, polícias e meios de comunicação fazerem vista grossa para o precipício que nos aguarda. Quem tem dúvidas de que, no dia primeiro de janeiro, a capital federal há de se transformar numa praça de guerra ainda maior? Quem duvida que o inferno que nos aguarda em 2023 tende a fortalecer a tese de que os militares têm a solução para o nosso país?

Quem não se assusta com o que viu em Brasília nesse dia 12/12 certamente já perdeu as esperanças na democracia. E enamorar-se com formas autoritárias de governo começa pelo abandono na crença de que o Estado de direito contém soluções razoáveis para a maioria dos nossos problemas. A fim de incentivar a civilidade entre os meus estudantes, costumo dizer a eles que a democracia é a forma de governo menos pior: nas outras você nem pode fazer críticas (como é corriqueiro nas democracias).

Entretanto, a democracia não pressupõe o seu direito de vomitar qualquer excrescência por aí só porque você vive em um Estado livre. Isso nos levaria à mesma barbárie que, supostamente, teríamos saído para que a justiça não fosse feita com as próprias mãos. E é para que não voltemos à barbárie que discursos e atos de terror e ódio não podem ser travestidos de liberdade de expressão.

A sociedade brasileira permanecerá rachada pelos próximos anos e a tarefa das instituições não é apenas coibir os atos antidemocráticos, mas solidificar uma unidade capaz de derrotar diuturnamente os que se opõem ao Estado de direito e à Constituição de 1988. Tarefa árdua, mas a história nos ensina que o contrário disso resultará em golpe de Estado amadurecendo a ideia de que as Forças Armadas têm a solução. Não têm. Isso precisa ser dito em alto e bom som para que os crimes cometidos em nome de uma suposta “liberdade” não sejam vistos na história como um mal necessário.




RELACIONADOS