Max Dias
Historiador, jornalista, professor do IFES Campus Linhares e Doutor em História

As armas de Bolsonaro para 2022


Publicado por: Max Dias Em: Colunistas No dia: 11 de março de 2022


 

Aumento da gasolina, do gás de cozinha, do diesel, da inflação. Uma semana cujas notícias econômicas são péssimas para o governo. O que esperar após isso? Uma pesquisa eleitoral apontando o definhamento de Bolsonaro. Certo? Errado. As péssimas notícias, ano após ano, o mantiveram dentro de um patamar quase inexplicável. Por isso, se tem uma verdade aí é que a sustentação política e a base eleitoral do atual presidente nem flertam com a sua gestão econômica do país. Jair Bolsonaro é um importante fenômeno da política cujas raízes se encontram também em sua personalidade, tão aparentada com a de muitíssimos brasileiros.

Há no Brasil uma tendência da política em buscar revelar personagens que possam liderar cidades, Estados e o país amparados nos seus conhecimentos prévios sobre a realidade, geralmente alforriados pela academia ou pelo seu sucesso nos negócios. Os “doutores”, historicamente, foram os nossos políticos. Essa ideia do político como um ilustrado ainda reverbera por aí, nas conversas da sociedade. As pessoas ainda defendem que o indivíduo tenha estudado, que fale bem, se comporte como um diferente.

Entretanto determinadas personalidades conseguem furar essa barreira e, com certa autenticidade, alcançam um status político inquestionável. É o caso de Jair Bolsonaro. Não foi a carreira militar de capitão aloprado que o fez reconhecido (tampouco seu “histórico de atleta”). A julgar pelas suas atitudes em tempos de caserna o mesmo jamais teria sido escolhido por este setor da sociedade como representante na Câmara Federal.

De fato, Bolsonaro conseguiu canalizar, durante décadas, um discurso comum e simples que dialoga com muitas pessoas, mesmo sendo uma fala abjeta e antidemocrática. Conseguiu também organizar uma estrutura eleitoral baseada nas relações de poder colocadas pelas milícias nos territórios do Rio de Janeiro. As mesmas foram replicadas pelo país nas eleições de 2018 tendo as redes sociais como suporte viral e de controle dos grupos. Após isso, já com estatura de presidente, passa a agregar cerca de 25% da população em torno de si. Uma enorme rede de relações que chega aos militares, às igrejas, ao agronegócio e políticos fisiológicos.

Pouco importa se suas ideias permaneceram as mesmas sempre ou se modificaram com o tempo. Não importam as suas promessas e os seus insucessos. A política vive do movediço. Portanto, entender Bolsonaro e sua resiliência eleitoral passa por compreender como ele agencia setores da sociedade por meio de um discurso. Não serão os péssimos resultados econômicos os principais adversários do presidente, mas sim aqueles indivíduos que não lhe derem ouvidos para que, mais uma vez, a paranoia derrote a democracia.




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