Publicado por: Agencia de Notícias Em: Saúde No dia: 24 de agosto de 2021
Ultrapassada a barreira do desenvolvimento das vacinas — que, sim, funcionam e são responsáveis por poupar milhares de vidas —, especialistas e gestores de saúde começam a se debruçar sobre novas dúvidas que dão o tom da emergência inaugurada pelo novo coronavírus. Um desses questionamentos é a viabilidade de combinar duas vacinas de fabricantes diferentes para concluir a imunização com maior velocidade ou segurança, uma prática chamada de intercambialidade.
Isso acontece quando um paciente, por exemplo, inicia o esquema vacinal com a AstraZeneca, e conclui a imunização com a Pfizer. A associação, normalmente, tem motivos para ocorrer: sua adoção está associada, principalmente, à falta de imunizantes, ou como forma de prevenir efeitos adversos relacionados à inoculação do fármaco inicial em alguns grupos.
Trata-se de uma prática que começa a ser usada no Brasil. Em uma das mais importantes decisões do tipo, em julho, o Ministério da Saúde recomendou que as gestantes e puérperas que iniciaram esquema vacinal com AstraZeneca concluam a segunda etapa com a Pfizer. A decisão veio na esteira da morte de uma gestante, por AVC, que tinha recebido a vacina de Oxford/AstraZeneca.
A cidade do Rio de Janeiro foi além e permitiu, na semana passada, que os cariocas que tomaram a primeira dose de AstraZeneca concluam a vacinação com o imunizante da Pfizer, se assim desejarem. A medida está de mãos dadas com o que determinou o governo do estado ao permitir o uso combinado dos dois imunizantes na falta da segunda dose da AstraZeneca. A capital também fará aplicação da terceira dose em maiores de 60 anos com Pfizer ou AstraZeneca — independentemente do produto com o qual o paciente tenha iniciado seu esquema vacinal.
Do ponto de vista imunológico, faz sentido combinar dois imunizantes esperando uma resposta imune tão potente quanto — ou até maior — do que ao utilizar duas doses do mesmo fabricante. Isso porque as vacinas utilizadas no Brasil (Janssen, Pfizer, AstraZeneca e CoronaVac) têm partes da proteína S, de spike, como ponto fundamental para disparar o sistema imune. No caso do coronavírus, a proteína spike é responsável por permitir o acesso do agente infeccioso nas células humanas.
— Todas as vacinas estão estimulando a mesma coisa, com tecnologias distintas. A única que é um pouco diferente é a CoronaVac, que tem diversas proteínas virais, além da spike — explica Daniel Mansur, professor da Universidade Federal de Santa Catarina e membro do Comitê Científico da Sociedade Brasileira de Imunologia.