Gustavo Varella
Advogado, Professor, Cronista de Rádio e Jornal. Sócio de Varella, Dall'orto & Malek Associados.

Senta que o leão é manso


Publicado por: Gustavo Varella Em: Colunistas No dia: 25 de março de 2021


“SENTA QUE O LEÃO É MANSO!”
A frase acima é a conclusão de uma piada (aqui) impublicável porque contém palavras chulas, mas explica muito bem alguns fatos e condutas nos tempos dessa tragédia que vivemos. Já que o personagem principal da frase é um LEÃO, vou usar esse felino para expressar o que penso sobre o momento. Permitam-me as metáforas.
No início do ano 2020 ouvimos notícias sobre uns leões que estariam (estariam porque ninguém tinha visto os ataques ainda…) devorando pessoas na Ásia. Como a Ásia é longe demais de Jucutuquara, Ibiraçú, Brasília e afins, poucos de nós tentamos imaginar a cena e alguns outros poucos pensaram por uns poucos segundos na tragédia para a familia de alguém comido por um leão. Mas como o sujeito devorado era chinês, paciência, já que chinês come de tudo, e aquilo poderia ser até uma forma de “compensação” da natureza, ou, quem sabe, uma nova tática usada pelo Partido Comunista Chinês para eliminar seus desafetos.
O problema foi que os leões conseguiram invadir aeroportos e portos, e entraram dentro de aviões e navios e começaram a aperecer em outros países. Aqui no Brasil, apesar do susto para alguns, frases como “o brasileiro é filho de Deus”, “com brasileiro ninguém pode” ou piadas como “ah!, Leão já basta o da receita” ajudou-nos até a animar festinhas de carnaval, com máscaras de leão e gente cantando marchinhas tipo “OLHA A JUBINHA DO LEÃO”, uma ferazinha, para muitos.
Ocorre que os leões se reproduziram e avançaram, comendo cada vez mais gente. Como somos 210 milhões e os leões dificilmente atacariam mais que 2 ou 3 milhões (que seriam comidos por lumbrigas após morrerem, enfim, já que todo mundo morre!) a maioria, ainda que comovida com o número cada vez maior de devorados, não se deu conta de que a seletividade alimentar do leão não era tão conhecida como as preferências gastronômicas de nosso principal domador, e que leões não se contentam com pão e leite condensado nem tampouco trocam um belo pedaço de carne por uma salada se aparecer alguém berrando e armado com armas poderosas diante dele: ele continua preferindo carne mesmo.
O tempo foi passando e muita gente que outrora parecia ter entendido que leão faminto a gente só consegue evitar fugindo dele para bem longe ou (perdõem-me agora os defensores da vida selvagem pelo cruel exemplo…) com um certeiro tiro de espingarda, começou a reclamar que ficar fugindo é coisa de “maricas”, que a constituição garante o direito de ir e vir e que a munição usada para matar leão era estranhamente vendida pelo mesmo pessoal que criara, alimentara e soltara os leões pelo mundo, o que evidenciava um grande golpe à vista.
E os leões, que aparentemente tinham saciado sua fome, voltaram à cena, inclusive mais fortes e espertos (e bem humorados, inclusive, “rosnando de forma irônica” de algumas pessoas que começaram a usar remédio para piolhos para combate-los, já que mal não faria!), com muitos filhotes novos que sequer respeitavam aquelas pessoas que já haviam escapado de seus pais nos meses anteriores.
Muitas pessoas tentaram pelo menos controlar o problema, alguns até fechando parques, florestas e outros pontos turísticos que acumulavam pessoas, ao simples argumento de que se a unica soluçao para os leões é combate-los a tiros e mesmo isso estava muito difícil por falta de munição (é que muitos fabricantes de munição ficaram chateados quando começaram a ouvir pessoas importantes naquele país dizendo que o produto deles não apenas era ruim mas também trazia mais mal aos usuários que solução para o problema, e passaram a atender encomendas apenas dos vizinhos que queriam combater os leões, não apenas negar sua existência ou dizer que mordida de leão só mata os veadinhos da savana), mas isso foi tratado como um grande plano novamente do Partido Cominista Chinês para controlar as florestas e as reservas daquele país.
O fato é que não se sabe como essa história vai terminar, ora porque alguns habitantes, muitos deles desesperados, concluíram que é melhor morrer devorado do que de fome e agora protestam (inclusive em grupo e abraçados, que é para amedrontar os leões) pela abertura de todas as atividades, argumentando que basta apenas portarem um crachá no peito dizendo “eu sou brócolis, verde, e não comida de leão”, para evitarem o problema, e outros, ao contrário de se preservarem agora mais ainda agora (que parece que começou a chegar munição) passaram a “recuperar o tempo perdido” em festas do “chupa leão!” e outras atividades, curiosos apenas em saber onde foram parar as verbas que disseram destinadas a abrir clinicas de fazer curativos e mordidas de leão, mas que teriam sido usadas para coisas sem sentido como despesas administrativas com salas de aula e segurança, etc, ou certamente desviadas pelo pessoal do Partido Comunista Chinês, essa turma nojenta.
Alguns também preferiram deixar de lado o problema com leões para voltarem a um assunto que rendeu muita discussão recentemente no país: a caça aos ratos e a recente abertura de uma ratoeira, que infestaria novamente o país desses roedores infames, eles sim muito mais nefastos que os leões, que só devoravam algumas pessoas e provocavam apenas os enjoados “mimimis”. Voltando à frase do título (e da piada), só falta agora o diretor do circo aparecer no meio da platéia dizendo que sempre se preocupou com os leões, advertindo que pior que morrer devorado pelo leão é perder o ponto de venda de pipocas na frente da lona e gritar, ao fim “SENTA QUE O LEÃO É MANSO, TALKEY???”