Publicado por: Redação Em: Política No dia: 18 de julho de 2020
Um mau exemplo do uso de dinheiro público está chegando de Presidente Kennedy, no Sul do Estado: o Ginásio de Esportes Eraldo Correa Lemos, o Correão, construído em Área de Proteção Permanente, ao arrepio do bom senso e da lei, foi interditado pela atual administração, que recebeu parecer contrário dos técnicos da Secretaria Municipal de Meio-Ambiente para a pretensão de tentar recuperar o espaço, que atualmente está condenado pelas autoridades públicas. A obra, agora interditada, já consumiu mais de R$ 4,2 milhões dos cofres da Prefeitura Municipal de Presidente Kennedy.
A ordem de serviço para a construção do ginásio em local irregular foi dada pelo então prefeito de Presidente Kennedy, Aluízio Carlos Correa, em junho de 2004, quando ele se preparava para disputar a reeleição – e ele acabou reeleito. Aluízio Correa foi prefeito de 2001 a 2008.
Coube agora ao prefeito interino, Dorlei Fontão da Cruz, descobrir mais irregularidades na construção da obra. Como consequência, Dorlei teve que interditar e fechar o ginásio para segurança da população, pois a obra foi condenada pelas autoridades ambientais. O Correão, construído por Aluízio Correa, se tornou um verdadeiro ‘Elefante Branco’, o que significa desperdício de dinheiro público .
O Município corre o risco de ver correr pelo ralo, ou melhor, pelo leito do córrego Batalha, sobre o qual o Correão foi edificado, o investimento, à época, de R 1,070 milhão e que, em valores atualizados, considerando-se apenas a correção pelo IGP-M da Fundação Getúlio Vargas, chega a R$ 2,770 milhões. A empresa responsável pela obra à época foi a Art Deco, de Cachoeiro de Itapemirim.
A Secretaria de Meio Ambiente recebeu, por parte da Procuradoria-Geral do Município a solicitação de “juntada de suposta licença ambiental do empreendimento público Ginásio Poliesportivo Eraldo Correa Lemos (Correão), considerando o requerimento de reforma e/ou ampliação do mesmo por esta municipalidade”, através do processo PMPK, Protocolo n° 13.545/2020, de 28/05/2020, despacho na folha nº 240.
Após análise do Corpo Técnico, o parecer foi pelo “indeferimento da área total indicada, por ser considerada intervenção em Área de Preservação Ambiental (APP), sem precedentes legais para o licenciamento ambiental do empreendimento citado”. O relatório faz ampla descrição do embasamento legal, citando leis federais, estaduais e municipais para negar autorização para a reforma do ginásio.
De acordo com o relatório 33/2020, de 15 de julho de 2020, “a localização do Ginásio Poliesportivo está inserida diretamente no curso d’água, o qual foi implantado projeto de canalização, onde não descaracteriza área de preservação permanente (APP), denominado de córrego Batalha, conforme arquivos shapefiles disponibilizados no portal Geobases”.
E cita ainda que “o empreendimento está inserido em sua totalidade em APP de curso d’água – o córrego Batalha passa canalizado em frente ao Ginásio, conforme demonstrado no mapa de caracterização em anexo e levantamento altimétrico do projeto de canalização do córrego Batalha”.
Com ordem de serviço assinada pelo então prefeito Aluízio Correa, em 4 de junho de 2004, no período pré-eleitoral, o ginásio poliesportivo teve prazo de execução a toque de caixa, de 90 dias (a tempo de ser concluído poucos dias antes das eleições municipais) e apresentou problemas estruturais apenas quatro anos depois, em 2008. A situação só piorou nesses últimos 12 anos, segundo farta documentação enviada à reportagem.
Desde as chuvas de dezembro de 2013, quando sofreu sérios danos estruturais, com deslocamento do aterro feito sobre área úmida de influência do córrego Batalha, que foi canalizado com manilhões, o ginásio deixou de ser utilizado pela comunidade.
Em 24 de março de 2015, a administração municipal assinou um contrato, desta feita com a Construtora Tamoio, de Cachoeiro, no valor de R$ 762,6 mil, para reforma do ginásio, com prazo de 460 dias para conclusão. Esse contrato sofreu um primeiro termo aditivo, em 4 de fevereiro de 2016, no valor de R$ 378,5 mil , passando a obra de “reforma” a custar R$ 1,141 milhão. Para se ter ideia, o valor atualizado da construção, até a data desse primeiro aditivo, era de R$ 2,126 milhão (IGP-M da FGV).
Um novo aditivo foi assinado prorrogando por 180 dias a execução da obra, a partir de 21 de abril de 2016. E o terceiro, com mais 150 dias, a partir de 20 de outubro de 2016, logo depois da reeleição da prefeita Amanda Quinta Rangel, com prazo final em 20 de janeiro de 2017, mas em 7 de março de 2017, portanto quase três meses após o último prazo para sua entrega, a obra foi paralisada por ordem do então secretário Municipal de Obras, Miguel Angelo Lima Qualhano.
O valor da “reforma” paralisada, atualizado em julho de 2020, é de R$ 1,425 milhão. Ou seja, somando-se aos R$ 2,770 milhões atualizados da construção, o ginásio de esportes, que não pode ser utilizado pela comunidade, construído sobre o brejo em Presidente Kennedy, já consumiu mais de R$ 4,2 milhões.
Aluízio grava vídeo e diz ter orgulho da obra, que agora está condenada
Em maio deste ano, Aluízio Correa, que já está em pré-campanha para disputar a eleição para o cargo de prefeito em novembro de 2020, gravou um vídeo e postou em suas redes sociais criticando a paralisação das obras do Ginásio Correão. Aluízio, no entanto, esqueceu de citar no vídeo que a obra está interditada pelas autoridades ambientais por ter sido construída, em sua gestão, dentro de uma Área de Preservação Ambiental e por apresentar outras irregularidades.
No vídeo, Aluízio Correra diz ainda que “quero ter oportunidade de mudar essa situação em que se encontra o município. Ele diz ainda que tem orgulho de, como prefeito, ter sido o autor da obra condenada agora irregular pelo próprio Poder Público. Por isso, foi interditada. “O Correão é uma das obras que mais me orgulho de ter sido feita em minha gestão”, diz Aluízio.
Com informações do blog Elimar Côrtes