Max Dias
Historiador, jornalista, professor do IFES Campus Linhares e Doutor em História

2022 e a questão econômica


Publicado por: Max Dias Em: Política No dia: 24 de setembro de 2021


O componente econômico é um fator preponderante numa eleição, por mais que alguns insistam no contrário. Qualquer debate moral, cultural ou de índole serve mais como combustível para a agitação que como instrumento de convencimento. A economia acaba por delimitar o horizonte de uma candidatura que se pretende vitoriosa. E por isso temas como inflação e desemprego, ainda recentes na memória do brasileiro, retroalimentam um temor a vista.

Foram os militares, após 21 anos de ditadura, que entregaram um país consumido pela inflação descontrolada, pela dívida externa galopante e pelo desemprego em massa, após um curto período de “milagre econômico”. Restou a José Sarney, enquanto presidente e antigo aliado dos militares, a tarefa inglória de retirar o país do atoleiro que ele mesmo ajudou a enfiar. É claro que o imortal não alcançou sucesso. Nas eleições de 1989 o maranhense era uma âncora eleitoral, puxava para o fundo das intenções de voto todo o candidato que fosse fotografado junto a ele. O último dos ditadores, o general João Figueiredo, padeceu do mesmo mal em razão do péssimo resultado econômico alcançado pelo seu governo.

Na mesma linha econômica sofreram José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT). O primeiro, enquanto candidato do então presidente Fernando Henrique Cardoso, sofreu as consequências de um governo que viu crescer, a partir de 1998, o desemprego, a inflação e a crise econômica, resultado da abrupta desvalorização cambial. Quando Lula, em 2002, reafirmou seu compromisso com o mercado financeiro (por meio da Carta ao “povo brasileiro”) um precipício se abriu entre ele e Serra, levando o pernambucano a sua primeira vitória. Tendo ampliado os ganhos econômicos da população, Lula conseguiu fazer uma sucessora. Entretanto, após 2014, Dilma viu crescer a inflação e a dívida pública. O abalo econômico fez ampliar o caos político, pois parcela da sociedade ainda não havia aceitado mais uma derrota do candidato tucano (Aécio Neves, dessa vez). O que se viu a seguir foi a sua queda, com direito a conspiração do vice-presidente e um autêntico cambalacho contábil que gerou a tese da “pedalada fiscal”.

Pois bem. Jair Bolsonaro tem visto crescer o preço dos alimentos do mercado, dos combustíveis na bomba, nas distribuidoras de gás, da energia elétrica. Por mais que um séquito radical reafirme a sua idoneidade, a CPI mostrou a infinidade de gambiarras feitas para superfaturar vacinas e, agora, para mascarar os dados de morte pela covid-19. O esquema de “rachadinha” corre na justiça contra todos que carregam o sobrenome Bolsonaro e somente a sua filha de 10 anos não traz consigo qualquer acusação. O antibolsonarismo pode ser um motor para a derrota do presidente em 2022, tal qual foi o antipetismo em 2018, conforme sugerem alguns. Todavia, a chance de reeleição de Jair Bolsonaro atende pelo nome de estabilidade econômica. Distante dela, a faixa presidencial tende a ocupar outro ombro no ano que vem.




RELACIONADOS